É BOM LEMBRAR
 
Quando a Virtude é Circunstancial!...
06.06.2022
 
     A virtude será uma ilusão, se a justiça que a informa e lhe dá conteúdo não se consubstanciar no caminho da liberdade, assente na verdade, responsabilidade e respeito!
 
    No trajeto percorrido por cada um, sente-se a alegria e o entusiasmo quando este trajeto veicula uma direção coordenada e emana da Liberdade, que o distingue na estrada da vida e o socorre em qualquer estado de solidão. Aliás, é nesta força que reside toda a ação humana, mesmo que sejam diversas as direções percorridas e diferentes os modos de coordenação dos trajetos.
 
    É por esta direção coordenada e responsável que se podem evitar as “malhas” da contradição pessoal e do sofrimento social. É por esta coordenação que se pode romper com o circunstancial, como razão para todos os nossos erros e fonte de todo o mal. Se o homem é com as suas circunstâncias (causas que condicionam o seu comportamento), o homem deve viver pela resolução dessas causas e não pela acomodação às mesmas.
 
    Quando a virtude é circunstancial, a felicidade não tem lugar. Se amarmos uma mulher só pela virtude de ser bela, então a virtude não está em ela ser perfeita, mas só naquilo que é perfeito; ninguém pode ser feliz só pela “beleza da montra”.
 
    Quando a virtude é circunstancial ao tempo em que vivemos, como é o caso dos dias de hoje, tudo passa a parecer ser lícito e, se alguém atrapalha a opinião geral, está sujeito a situações de descrédito e até de desvalor nas suas opiniões.
 
     Não desejo ser categórico, num tal juízo negativo e faço votos para me vir a enganar no futuro, mas ainda que o não deseje, na dúvida começo cada vez mais acreditar, que o grande erro que a Humanidade estará a cometer e a de estar a tornar cada vez mais a virtude algo circunstancial (o que interessará é persuadir e convencer as massas) , ainda que o que se diga possa ou não ser verdadeiro, numa palavra “o pensamento não terá que ter a honra da verdade como garantia!"
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     Os exemplos, são por demais evidentes e isso me leva a pensar que não estarei a delirar. Basta verificar como grandes “famílias” se instalam nas circunstâncias políticas, económicas e religiosas; como elas criam divisões na humanidade e estados de solidão naqueles que não estão de acordo com estas novas formas de ditadura, “uma pessoa um voto” mas onde está a aceitação de “uma pessoa, uma ideia?”
 
     Vivemos na atualidade pelo exagero da separação da nossa individualidade pela fusão forçada no eu coletivo; negligenciamos o ponto de referência e apoio que reside no centro de decisões pessoais; desnuclearizamos a família, o Estado e os sectores de produção: em nome de uma pseudoabertura, a uma cabeça, uma decisão (muitas vezes, somente contrária).
 
     Evitamos, cada vez mais, por vergonha das palavras, o ideal axiológico que fermenta em cada homem: mostrando-nos moralistas nos pensamentos, para termos amigos no café ou nos corredores do teatro.
 
     Entre o abraço e o beijo já não reside a singularidade do tempo que recheia e embeleza o ideal prático, de quem ama com responsabilidade e deverá ter como desígnio a cidadania autêntica.
 
     Seja-me permitida esta observação, ainda que generosa, até a mulher, salvo as devidas exceções, se tornou parte integrante neste processo; aliás, cabe-lhe também a culpa de não perceber que progressivamente está a substituir uma estruturação possessivamente imposta pelo homem, por uma inconsciente “euforia” de desejos, de ambos, que espalham imagens de desinteresse pelo futuro do grupo da família, que, como se sabe, só é possível pelo casamento, união, relação, (seja lá como for!) mas sempre com a consequente responsabilidade mútua, no par ou mesmo na atitude individual.
 
     Todos somos culpados, e esta ordem de razões negativas não poderá continuar sem uma reflexão sobre as suas consequências futuras, para que a nossa vida em sociedade seja uma força pelo desejo de nos tornarmos cada vez mais humanos:sermos contra a guerra, desejarmos a paz, vivermos com honra e combatermos contra a pobreza, luxúria, devassidão, desigualdade, injustiça, numa palavra "sermos e vivermos como pessoa, por inteiro!"
 
     A liberdade sem coordenação, coesão social e responsabilidade, não permitirá a felicidade, e esta, é um permanente estar-a-caminho, mas é imperioso consciencializarmo-nos desse estar a caminho , logo, ter como centro de atitudes, não a posse trivial dos desejos e vontades pessoais , mas a responsabilidade e o diálogo aberto a todos, mesmo que não sejam do nosso partido ou da nossa religião, ou que não estejam de acordo com a nossa atitude numa relação mais íntima.
 
     Não é possível uma socialização padronizada como qualquer sistema fabril, nem uma assimilação automática: em que nada se discute, desde que a maioria esteja de acordo e que nada pareça mal, desde que seja moderno ou que" passe a ser moda"
 
     Advogar nas circunstâncias é renunciar à força criadora que está em nós; é ignorarmos a nossa vocação ética universalista e perdermos o respeito e honra, que são a nossa pedra-de-toque "no Caminho, na Verdade e na Vida"
 
Macedo Teixeira