Amanhã Poderá Ser tarde

06.07.2022

      Quem não vê a sua própria vida, dificilmente verá a dos outros e de tudo o que o rodeará.

      Quero com isto dizer, de que será necessário prestarmos sempre atenção à nossa própria vida e ao mundo que nos rodeia; pensarmos nela, como um valor infinito e atentamente a escutarmos nas suas necessidades e desejos.

     Considerar a necessidade de existirmos dentro de uma ordem e organização vital e social, uma ordem que será sempre necessária em qualquer tempo da nossa existência, para que ainda que em sofrimento, possamos viver melhor ou pior neste mundo, enquanto possível como uma realidade inspiradora, quer atuando somente como indivíduos, quer atuando superiormente como membros de uma comunidade local e social.

     Não que este movimento introspetivo seja fácil nos dias de hoje; levamos a vida com tanta correria que nem nos apercebemos de que desejos pessoais são aqueles que temos em cada momento que vivemos. A maior parte das vezes surge a ilusão no automóvel, na chávena de café, no dito de espírito; “Olá, está bom? Como vai?...”; mais forte no imediato espontâneo do que na saudação e num cumprimento mais sereno e mais atento ao outro.

     Passamos sempre apressados, sem nos apercebermos do outro, nem darmos conta disso, algumas vezes a falarmos pelo telemóvel em voz alta, ou com os auscultadores colados aos ouvidos, correndo muitas vezes perigo, porque nem olhamos quando atravessamos a rua, movidos por uma responsabilidade muitas vezes turvada pela distração e esquecendo-nos da nossa vida, no que ela tem de melhor: o diálogo, a convivência, o acolhimento, etc.

      Servirmo-nos de tudo a correr e às vezes não temos sabor em nada; vale-nos ao menos a noite, porque nela descansamos e repousamos para o dia seguinte; apesar de às vezes, também dormirmos a correr pois o tempo parece fugir-nos e as preocupações parecem não nos dar descanso nem nos deixarem viver de outro modo.

      Estimados amigos, meus semelhantes, sei que estou a escrever sentimentos e ideias que todos já bem conhecem, mas tenho consciência de que às vezes é preciso que alguém nos faça pensar, refletir nas nossas atitudes; e o momento em que lemos algo, sobre a necessidade da sua lembrança, pode ser o sal para temperar a nossa consciência, o açúcar para adoçar os nossos sonhos ou a água para limparmos melhor algumas das pequenas manchas que todos temos; todos aprendemos com os sentimentos de recordação e com os exemplos dos outros, também!

     Sejam então as ideias que, entretanto, hoje vos transmito, algum açúcar para adoçar os vossos sonhos e os meus também, porque a vida precisa da nossa atenção, a começar logo em nós, para se poder estender aos outros, para se poder estender sobretudo àqueles que nos são os mais próximos.

     Não se poderá viver só a correr ou só a dormir; não se poderá viver só pelo transitório e efémero; a vida não é provisória, nem se conserta como se consertam os objetos.

     E eu com estes considerandos não pretenderei convidar-vos a andar a olharem para tudo e a prestarem atenção a tudo, isso não será possível, mas olharem para o essencial!

     Proponho que passem a olhar mais conforme as vossas possibilidades em todo o sentido e, a permanecerem nos atos sociais, conforme vos der mais jeito no vosso tempo e na vossa disposição, mas contendo a pressa porque ela é companheira da ansiedade.

      Proponho com elevado sentimento sobre o que seja digno, para apreciarem o que fazemos de nós e apreciarem as coisas que também seremos capazes de criar e organizar na natureza ou na comunidade. Pois se não prestamos atenção às coisas que criarmos e produzimos dentro da organização, se não as valorizarmos individual e socialmente, nem as defendermos agindo sempre como pessoas de bem, dando conta do que acontece de bom, pelo olhar mais atento e valorativo, ou quando for o caso, do que não estará em ordem ao bem social, do que irá pondo ou já estará a pôr em causa a nossa própria vida  ou a vida do grupo, de que servirá andar tão apressados na existência, só para podermos correr para qualquer lado, mas sem pensar na direção nem no valor dessa correria?

     A pressa justificar-se-á, com certos limites, mas só para chegarmos ao que fazemos e para gozarmos o que criamos.

      No entanto, se só tivermos pressa para andarmos em correrias e à toa; a vida não terá sabor e a nossa consciência perderá o sentido dos nossos sonhos e da nossa liberdade, esfalfar-nos-emos imenso e acabaremos por nos saturar de tudo!

     Quem não vê a sua própria vida no valor do dom que ela tem, dificilmente se aperceberá de que estará a competir em sociedade, que não deverá para ser, para o melhor e o mais importante, mas para a melhorar para si mesmo e para todos os outros e para a Humanidade.

     Se não prestarmos atenção ao que é profundamente humano e fundamental, para podermos envelhecer no Tempo com a esperança numa vida plena e saudável; porventura, com alguns sacrifícios e amarguras, mas realizada com atenção em cada tempo de espera, de trabalho ou de viagem. E se não dermos valor às coisas que temos, às casas, aos automóveis e estradas que construímos, se não dermos valor aos filhos que criamos com educação e amor, à mulher ou ao homem que nos inspiram, à conversa amiga que trocamos com o nosso semelhante; que significado terá a vida e que significados terão as coisas, que por vezes, com tanto suor e sofrimento fomos conseguindo realizar ao longo da nossa história?!

     Não vos convido a viverem e andarem precipitadamente ativos ou a serem demasiadamente moles nas vossas decisões, a minha proposta será no sentido de apreciarem sempre quem são, como criaturas e seres do Universo, que nasceram e vivem para apreciarem também as outras pessoas e todos os elementos que o constituem e o tornam admirável.

     Proponho que vivamos com humanidade diligente e crítica em atos descomprometidos e livres, atos democráticos, determinados e socialmente humanos, porque se não o fizermos, amanhã poderá ser tarde, para a libertação da nossa vida de toda e qualquer tragédia.

 

Macedo Teixeira