“De graça recebestes, de graça dai.”

Desde há muito tempo que mantenho a convicção de que um dia poderei vir a adquirir a capacidade espiritual necessária para a compreensão do que vou desejando de mais importante para a minha vida, isto é, vir um dia a conseguir obter o saber sobre a verdadeira essência daquilo que realmente é (daquilo que é sem qualquer dúvida), para então, também poder ser capaz de interpretar com mais nitidez o que vou sentindo no meu interior, sobretudo sobre certos aspetos da misteriosa transcendência da minha vida.

        E este desejo tem crescido continuamente por ainda acreditar ser capaz de poder deixar de sentir a minha existência sempre com tantas dúvidas, dúvidas como todas aquelas que ainda sinto, mesmo já nesta fase da minha vida! Sobretudo sentindo a ordem do Mundo Social quase sempre de um modo tão intermitente e quase sempre tão fugaz e efémero e não tão constante e permanente como gostaria de o sentir.

       Permanente, pelo menos quanto bastasse e fugaz no mínimo quanto possível, para a partir daí sermos capazes de poder sentir com firmeza todos os seus elementos na conjugação diária com os nossos semelhantes e sempre com a devida constância e suficiente clareza para os podermos avaliar com perfeição na justa medida dos nossos atos.

       A propósito e como prova para o efeito da reflexão por mim desejada em sentido comum, começa logo, por ressaltar em mim, uma de entre as várias das minhas grandes preocupações, uma das tais que há muito me interpelam, e que consiste em poder conhecer e sentir verdadeiramente qual o valor espiritual que terá a expressão: “De graça recebestes, de graça dai.” (Mateus 10:8.)

        É natural que em absurdo me possa penitenciar nesta limitação, contudo, não deixarei de dizer com humildade e certa confiança que ao longo da minha vida sempre tenho procurado ser mais do que aquele aluno que se limita a ficar pela normalidade e não luta para ir mais além na procura do mais puro, na preocupação de escutar e no esforço da compreensão de tal mensagem. Pois com a consciência inquieta e numa vontade permanente, tento sempre libertar-me de mim mesmo, esforço-me por fugir da assunção de culpa, por abstinência ou renúncia na procura de vir a ser melhor. Todos os dias vou aspirando com grande fé que me torne em todas as ocasiões, por mais simples que elas sejam, que me torne absolutamente no “Eu sou” e no “eu pareço”, e não no seu contrário: “Eu pareço, mas eu não sou!”

       Nesta expectativa, continuo com grande insistência a evocar a sabedoria e a trabalhar pensando e escrevendo com afinco e total desprendimento de mim mesmo, para poder vir a melhorar em tudo quanto seja possível sobre uma tal dependência existencial, ou seja, continuando a fazer um grande esforço para compreender esta inquietação e a aplicar com a consciência plena de estar a fazer tudo para ir ao encontro da expressão: “De graça recebestes, de graça dai.” (Mateus 10:8.)

      Porém, apesar de estar no centro de todas estas minhas preocupações complexas, decidi hoje compartilhar também convosco uma das minhas ansiedades (que sendo maioritariamente pessoal, julgo que se esta não vier a encontrar comunhão social comum, de pouco me valerá desabafar tal ansiedade e muito pouco também poderá ajudar a melhorar a compreensão do nosso semelhante) sobretudo, nesta ocasião e neste período social, que ao que me parece se vai tornando cada vez mais caótico e desleixado: “está sempre tudo bem, não existe culpa e todos são inocentes”, vivemos num mundo cada vez mais insano, injusto e inacreditável.

       Até parece que estamos a viver, julgo que inconscientemente, no reinado (da mentira, da burla, da injustiça, da falsidade, da infidelidade, da descrença, da maldade, etc.), sendo que com esta triste vantagem que têm ganho estes valores tão negativos vai começando também a florescer a crença num pensamento social, de que já serão muito poucos aqueles que ainda vão merecendo a nossa confiança e o nosso respeito no sentido Universal, já não valerá a pena “gritar aos quatro ventos”!

       Vai-se perdendo o respeito, sempre tão sublime e tão necessário, para a Humanidade e para a Vida do Universo, para poderem manter-se fortes, coesas e decididas pela progressão do Bem e da Harmonia, dois pilares básicos do nosso lindo e magnífico planeta Terra, apesar de este ser um pequeno grão a pulsar no fascínio do Universo.

       Ainda assim, proponho ainda antes de terminar este “desabafo” e na oportunidade de agradecer a todos vós do fundo do meu coração, pois são já tantos aqueles e aquelas a quem devo um agradecimento de elevado reconhecimento, pela dedicação com que vão lendo o que vou escrevendo e ouvindo o que vou dizendo, fazendo-o sempre com a serenidade e a paciência necessárias, sinal que em silêncio me faz meditar e agradecer, tornando-me, como qualquer homem, frágil em certas ocasiões, pois sou humano e isso, por muito que me esforce, sempre me comoverá, mas também me compensará e me ajudará a continuar a caminhar por aí!...

      Peço desculpa por tender a manter-me num certo anonimato e não responder de modo particular à amizade que me dedicam; contudo, ainda que ficando em silêncio, desejo que vejam neste meu gesto um sentimento universal de gratidão, pois sempre que posso, não me esqueço de ver nenhum pormenor ou comentário que façam, e acreditem que fico às vezes a desejar ser menos impessoal, daí que apelo para que me torne capaz de fazer com que todos sintam da mesma maneira, tudo o que eu sinto de satisfação e contentamento e também medito no modo de que eu seja capaz de dizer em espírito tudo o que de bom me vai na alma, e oxalá que me fosse permitido que o pudesse fazer simplesmente numa folha de papel em branco, uma folha onde pudessem ler e sentir em cada palavra, de modo total e absolutamente puro, o tal sentimento “De graça recebestes, de graça dai”.

Macedo Teixeira