Caminho de Luz e Sombra Caminho de Luz e Sombra (Texto 13)

   Perante esta atitude, o Senhor ordenou a Moisés: “Estende a tua mão sobre o Egito para que os gafanhotos venham a esta terra, invadam o Egito e devorem toda a vegetação aqui existente, tudo o que o granizo deixou”. Moisés estendeu a sua vara e o Senhor fez soprar um vento do oriente naquela terra, durante todo esse dia e durante toda essa noite. Quando amanheceu, o vento do oriente tinha trazido os gafanhotos que se espalharam pelo Egito e pousaram sobre toda a extensão do seu território em tão grande quantidade que não houve nem haverá jamais semelhante invasão. Cobriram a superfície de toda a terra e esta tornou-se escura. Devoraram toda a vegetação e todos os frutos das árvores, tudo o que o granizo tinha poupado.

   O Faraó mandou imediatamente chamar Moisés e Aarão e, mostrando arrependimento, disse-lhes: “Pequei contra o Senhor, vosso Deus, e contra vós. Mas perdoai o meu pecado ainda esta vez e rogai ao Senhor, vosso Deus, que afaste de mim este flagelo mortal”. Moisés saiu de casa do Faraó e intercedeu junto de Javé. O Senhor fez soprar um vento do ocidente muito violento que arrastou os gafanhotos, precipitou-os no mar Vermelho, sem ficar um único em todo o território egípcio. Mas o Senhor endureceu o coração do Faraó e este não deixou (uma vez mais) partir os filhos de Israel.

   Em consequência de mais esta má atitude do rei do Egipto, seguiu-se a nona praga – as trevas, tendo para isso o Senhor falado a Moisés: “Estende a mão para o céu e haja trevas sobre todo o Egito, tão espessas que se possam apalpar”. Moisés estendeu, então, a mão para o céu, e durante três dias densas trevas cobriram todo o Egito. No decurso de três dias, não se viram uns aos outros e ninguém se mexia do lugar em que se encontrava. Mas os filhos de Israel tinham luz nas regiões por eles habitadas. Perante este facto, o Faraó mandou chamar Moisés e rogou-lhe: “Ide oferecer sacrifícios ao Senhor. Só permanecerão aqui as vossas ovelhas e os vossos bois. Os vossos filhos também poderão acompanhar-vos”. Moisés respondeu: “Tu próprio terás de colocar nas nossas mãos o que for necessário para oferecer os sacrifícios e os holocaustos ao Senhor, nosso Deus. Os nossos rebanhos virão também connosco, não ficará nem sequer uma rês, porque é dentre os nossos rebanhos que devemos escolher os animais para oferecermos em sacrifício ao Senhor, nosso Deus, e, enquanto lá não chegarmos, não sabemos quais serão as vitimas que ofereceremos ao Senhor”. Mas o Senhor endureceu o coração do Faraó, e o Faraó faltou à palavra e voltou a não deixá-los partir e, enfurecido, disse a Moisés: “Sai da minha casa! Livra-te de tornares a aparecer na minha presença, pois no dia em que voltares a estar diante de mim, morrerás!” Ao qual, Moisés replicou: “Assim o disseste. Não voltarei mais à tua presença.”

   E assim deu-se o anúncio da décima praga. Tendo o Senhor dito a Moisés: “Enviarei mais uma última praga sobre o Faraó e sobre o Egito, depois da qual não só vos deixará partir, mas expulsar-vos-á daqui. Dirás ao povo que cada mulher peça aos seus vizinhos objetos de prata e oiro”. O Senhor fez com que o povo achasse graça aos olhos dos egípcios. O próprio Moisés era muito respeitado no Egito, tanto pelos servidores do Faraó, como pelo povo em geral. Moisés, cumprindo depois o que Deus ordenara, disse: “assim falou o Senhor: Pelo meio da noite passarei através do Egito e todo o primogénito nascido no Egito morrerá, desde o primogénito do Faraó, que deveria ocupar o trono, até ao primogénito da escrava que faz girar a mó e todos os primogénitos dos animais. Elevar-se-á um clamor imenso em todo o país do Egito, um clamor tal como nunca houve antes e não mais haverá. Mas, entre os filhos de Israel nem mesmo um cão latirá, quer contra eles quer contra o seu gado; assim, ficareis a saber de que maneira o Senhor distingue os egípcios dos filhos de Israel. Então, todos os teus cortesãos aqui presentes virão ter comigo e prostrar-se-ão diante de mim, dizendo: Parte tu e todo o teu povo que te obedece! Então, depois disso partirei”. Após estas palavras e dominado por grande cólera, Moisés saiu da casa do Faraó. O Senhor dissera também a Moisés: “O Faraó não vos escutará, para que, assim, os Meus prodígios se multipliquem no Egito”. Moisés e Aarão realizaram todos estes prodígios na presença do Faraó, mas o Senhor endureceu o seu coração e ele continuou a não permitir que os filhos de Israel saíssem da sua terra.

   Com esta praga, deu-se a instituição da Páscoa. O Senhor disse a Moisés e a Aarão no Egito: “Este mês será para vós o primeiro mês, será o primeiro mês do ano. Dizei a toda a assembleia de Israel: No décimo dia deste mês, tome cada um de vós um cordeiro por família, um cordeiro por cada casa. Se a família for pouco numerosa para comer um cordeiro, comê-lo-ão em comum com o seu vizinho mais próximo, segundo o número de pessoas, tendo em conta o que cada um pode comer. Será um cordeiro sem defeito, macho e com um ano de idade; podereis escolher um cordeiro ou um cabrito.

   Guardá-lo-eis até ao décimo quarto dia deste mês: então toda a assembleia de Israel o imolará ao entardecer. Recolherão o seu sangue e espalhá-lo-ão pelas duas ombreiras e pela verga da porta das casas onde for comido. Nessa mesma noite, comer-se-á a carne assada ao fogo com pães sem fermento e ervas amargas. Não comereis dela nada que esteja cru ou cozido em água, mas somente assada ao fogo; comê-lo-eis com a cabeça, as patas e as entranhas. Não deixareis nada para o dia seguinte, e se ficar algum resto queimá-lo-eis. Quando o comerdes, tereis os rins cingidos, as sandálias nos pés e o bordão na mão. Comê-lo-eis apressadamente, pois é a Páscoa do Senhor.

   Nesta noite, passarei através do Egito e ferirei de morte todos os primogénitos nascidos no Egito, desde os homens até aos animais, e exercerei a Minha justiça contra todos os deuses do Egito, Eu, o Senhor. O sangue servirá de sinal nas casas em que residis. Vendo o sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos pelo flagelo destruidor, quando Eu ferir a terra do Egito. Conservareis a recordação desse dia, comemorando-o com uma solenidade em honra do Senhor: celebrá-la-eis como uma instituição perpétua, de geração em geração. Durante sete dias, não haverá fermento nas vossas casas. Quem comer pão fermentado, desde o primeiro dia até ao sétimo, será excluído de Israel.

   A meio da noite, o Senhor matou todos os primogénitos do Egito, desde o primogénito do Faraó, herdeiro do seu trono, até ao primogénito do preso na masmorra, e todos os primogénitos dos animais. O Faraó ergueu-se durante a noite, assim como todos os seus servidores e todos os egípcios, e ouviu-se um imenso clamor no Egito, pois não havia casa alguma sem um morto. Nessa mesma noite, o Faraó mandou chamar Moisés e Aarão, e atormentado, suplicou-lhes: “Ide-vos, parti do meio do meu povo, vós e os filhos de Israel. Ide servir o Senhor como dissestes. Levai também as vossas ovelhas e os vossos bois, como pedistes, e parti! Implorai também por mim a bênção”.

   Os filhos de Israel partiram de Ramsés para Sucot, em número de cerca de seiscentos mil homens, sem contar com as crianças. Além disso, partiu com eles uma numerosa multidão de gente de proveniências diversas e grandes rebanhos de ovelhas e bois.

   Quando o Faraó deixou partir o povo, Deus não o conduziu pelo caminho da terra dos filisteus, que, no entanto, é o mais curto, pois Deus disse: “O povo poderia arrepender-se de ter partido quando se encontrar perante uma guerra, e regressar ao Egito. Então, Deus fez com que o povo se desviasse do deserto para o mar Vermelho. Os filhos de Israel saíram do Egito em boa ordem. Moisés levou consigo as ossadas de José, porque José fizera jurar os filhos de Israel, rogando-lhes: “Quando Deus vos visitar levareis daqui os meus ossos convosco. Partiram de Sucot, acamparam em Etam, na extremidade do deserto. O Senhor ia à frente deles; durante o dia, numa coluna de nuvem para os guiar no caminho; e, durante a noite, numa coluna de fogo para os iluminar, a fim de poderem caminhar de dia e de noite.

Macedo Teixeira, “Caminho de Luz e Sombra”, Chiado Editora, Lisboa, 2013, pp. 51 a 56.