Caminho de Luz e Sombra Caminho de Luz e Sombra (Texto 11)

     Moisés apascentava todos os dias o gado do seu sogro Jetro, sacerdote de Madian. Um dia, conduzira o rebanho para além do
 
deserto e subira ao monte de Deus: o Horeb. Neste monte, o Anjo do Senhor apareceu numa labareda, no meio de uma sarça que
 
estava toda a arder mas não se consumia. Então, Moisés disse para consigo: “Vou aproximar-me e examinar esta visão
 
extraordinária, vou saber por que razão esta não se consome!”. Deus viu que ele se tinha aproximado para observar, chamou-o
 
do meio da sarça: “Moisés! Moisés!” Ele respondeu: “Aqui estou”. Depois, Deus disse-lhe: “Não te aproximes daqui; tira as
 
sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é terra sagrada”. E acrescentou: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus
 
de Abraão, de Isaac e de Jacob”. Então, Moisés escondeu o rosto, pois não se atrevia a olhar para Deus. O Senhor, porém,
 
continuou: “Eu vi a miséria do Meu povo no Egito e bem assim tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus opressores.
 
 
     Conheço, pois, a sua dor. Estou decidido a libertá-lo das mãos dos egípcios e a conduzi-lo para uma terra fértil e espaçosa,uma
 
terra que mana leite e mel, terra em que reside o cananeu, o heteu, o amorreu, o fezedeu, o heveu e o jebuseu. Agora, os gritos
 
dos filhos de Israel chegaram até Mim e vi a tirania que sobre eles exercem os egípcios. Vai, envio-te ao Faraó, para que tires do
 
Egito o Meu povo, os filhos de Israel”. Mas, como Moisés era muito humilde, disse a Deus: “Quem sou eu para ir ter com o Faraó e
 
tirar os filhos de Israel do Egito?” – Ao que Deus respondeu: “Eu estarei contigo; e o sinal de ter sido Eu que te envia é este:
 
quando tirares o Meu povo do Egito, oferecereis sacrifícios sobre este monte”. Então, Moisés disse: “Quando eu for ter com os
 
filhos de Israel e lhes disser que o Deus dos seus pais me enviou para junto deles, se me perguntarem qual é o Seu nome, que
 
lhes responderei?” – Deus disse então a Moisés: “Responderás o seguinte: – Eu sou Aquele que sou”. E acrescentou: “Assim
 
falarás aos israelitas: “Eu Sou envia-me a vós!” Deus ordenou ainda: “Dirás isto aos filhos de Israel: – Foi o Senhor, o Deus de
 
vossos pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, que me enviou para junto de vós – Esse é para sempre o Meu nome, esse é
 
o nome com que Me invocarão de geração em geração. Vai, reúne os anciãos de Israel e diz-lhes: – O Senhor, Deus dos vossos
 
pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, apareceu-me e disse-me: “Visitei-vos e vi como vos tratam no Egito”. Por isso
 
resolvi: transferir-vos-ei da opressão do Egito para a terra dos cananeus, heteus, amorreus, ferezeus, heveus e jebuseus; para
 

uma terra que mana leite e mel. E eles escutarão a tua voz!”

 

    Disse ainda: “Depois irás com os anciãos de Israel ter com o rei do Egito, e dir-lhes-ás: O Senhor, o Deus dos hebreus, apareceu-nos, permite-nos pois que, durante três dias, caminhemos através do deserto, para oferecermos sacrifícios ao Senhor, nosso Deus. Eu sei que o rei do Egito não vos autorizará a partir, se não for castigado por mão poderosa. Mas Eu estenderei a mão e castigarei o Egito com toda a espécie de prodígios que realizarei no meio deles. Depois deixar-vos-á partir. E farei que o povo ache graça aos olhos dos egípcios e, quando de lá sairdes, não partireis de mãos vazias. Cada mulher pedirá à sua vizinha e àquela que reside em sua casa objetos de prata, objetos de oiro e vestuário, que entregareis aos vossos filhos. E, assim, despojareis os egípcios”.

 

    Porém, Moisés voltou a lembrar: “Eles não me vão escutar, dirão que o Senhor não me apareceu”. Perante esta dúvida, o Senhor perguntou-lhe: “Que tens tu na mão?” Ele respondeu: “uma vara”. E o Senhor ordenou: “Deita-a ao chão”. E Moisés deitou-a ao chão e a vara transformou-se numa serpente, que, ao vê-la, Moisés fugiu. No entanto, o Senhor ordenou-lhe: “Estende a mão e agarra-a pela cauda”. Moisés estendeu a mão, agarrou-a, e a serpente voltou a ser uma vara na mão dele. “Farás todas estas coisas para que eles acreditem que o Senhor, o Deus dos seus pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, te apareceu realmente.” Depois prosseguiu, dizendo: “Mete a mão no peito”. E Moisés meteu-a como o Senhor lhe dissera, e, ao retirá-la, ela estava coberta de lepra, branca como a neve. Depois ordenara-lhe de novo: “Mete outra vez a mão no peito”. Voltou a metê-la e, quando a retirou, a mão tinha o anterior aspeto de carne. Disse-lhe, então: “Se eles não acreditarem em ti, e se a evidência do primeiro prodígio os não convencer, acreditarão na evidência do segundo. E, se nem mesmo acreditarem nestes dois prodígios, se não te quiserem escutar, irás buscar água ao rio e derramá-la-ás sobre a terra, e a água que fores buscar ao rio transformar-se-á em sangue na terra.”

 

    Contudo, Moisés manifestou mais uma vez a sua humildade, confessando ao Senhor: “Ah, Senhor! Mas eu não sou homem que facilmente use da palavra; nunca pude fazê-lo, nem ontem nem anteontem; e mesmo agora que estais a falar com o vosso servo, tenho a boca e a língua embaraçadas.” O Senhor retorquiu-lhe: “Quem deu boca ao homem? Quem faz o mudo, o surdo, o homem que vê e o cego? Não sou Eu, o Senhor? Vai, pois; Eu estarei contigo quando falares e ensinar-te-ei o que hás de dizer.” Mas, Moisés respondeu mais uma vez: “Ah! Senhor, dai esta missão a outro.” Então, o Senhor encolerizou-Se com ele, e disse-lhe: “Não existe Aarão, teu irmão, o levita? Eu sei que ele fala com muita facilidade. Aliás, ele vem precisamente ao teu encontro, e, vendo-te, o seu coração exultará. Falarás com ele, e colocar-lhe-ás as palavras na boca. Quando falardes, Eu estarei com a tua boca e com a boca dele, e ensinar-vos-ei o que deveis fazer. Ele falará por ti ao povo, servir-te-á de boca, e tu serás como Deus para ele. Leva na tua mão essa vara, pois é com ela que tu realizarás os prodígios”.

 

    Moisés retirou-se, e, de volta a casa de Jetro, seu sogro, pediu-lhe: “Rogo-te que me deixes partir e regressar para junto dos meus irmãos que se encontram no Egito, para ver se estão ainda vivos”. Ao qual, Jetro respondeu: “Vai em paz”.

 

    No regresso ao Egito, o Senhor falou a Moisés em Madian, dizendo-lhe: “Vai de novo para o Egito, pois todos aqueles que procuravam a tua vida para te fazer mal já morreram”. Então, sem perder tempo, Moisés tomou consigo a mulher e os filhos, ajudou-os a montar num jumento e voltou para o Egito, segurando na mão a vara de Deus.

 

    Já no Egito, Moisés e Aarão apresentaram-se ao Faraó, e disseram-lhe: “Assim fala o Senhor, o Deus de Israel: ‘Deixa ir o Meu povo a fim de celebrar uma festa em minha honra no deserto’.” Mas, o Faraó respondeu: “Quem é esse Senhor para que eu obedeça às Suas ordens, deixando ir Israel? Não conheço o Senhor e não deixarei ir Israel”. E eles retorquiram: “O Deus dos hebreus apareceu-nos. Deixa-nos ir ao deserto, durante três dias de caminho, para oferecermos sacrifícios ao Senhor e evitar, assim, que Ele nos fira com a peste ou com a espada”. Então o rei do Egito respondeu-lhes: “Moisés e Aarão, porque pretendeis desviar o povo do seu trabalho? Ide cumprir as obrigações a que estais sujeitos”. E acrescentou: “Esse povo é atualmente muito numeroso: que será se, por vossa causa, interromperem os seus trabalhos?”. E nesse mesmo dia, o Faraó deu a seguinte ordem aos inspetores do povo e aos capatazes: “Não mais fornecereis ao povo palha para fazer tijolos, como antigamente; que eles próprios a vão buscar. Exigir-lhes-ei a mesma quantidade de tijolos que antes, sem reduzir nem um só. Estão ociosos e por isso gritam: ‘Queremos oferecer sacrifícios ao nosso Deus.’ Carreguem essa gente com mais trabalho; que nele se ocupem e não deem ouvidos às mentiras que lhes vêm contar”.

 

    Perante o sofrimento do povo, Moisés voltou-se outra vez para o Senhor, e clamou: “Porquê, Senhor, fizestes mal a este povo? Porque me enviastes? Desde que fui falar ao Faraó em vosso nome, ele maltrata o povo, e Vós nada fazeis para o libertar”. O Senhor respondeu-lhe: “Verás, dentro em pouco, o que vou fazer ao Faraó. Coagido por uma poderosa mão, deixá-los-á ir; coagido por uma poderosa mão, ele mesmo os expulsará da sua terra”.

 

    Depois disse a Moisés: “Vê, vou fazer de ti um deus para o Faraó: e Aarão, teu irmão, será o teu profeta. Dirás o que Eu te ordenar, e o teu irmão Aarão falará ao Faraó da sua terra para que ele deixe sair os filhos de Israel. Então, quando o Faraó vos disser: ‘Fazei um prodígio’, dirás a Aarão: ‘Pega na tua vara e lança-a diante do Faraó’, e ela transformar-se-á numa serpente”.

 

    Moisés e Aarão apresentaram-se ao Faraó e fizeram o que o Senhor tinha ordenado. Aarão lançou a sua vara à frente do rei e dos seus servidores, e ela transformou-se numa serpente. O Faraó mandou, porém, chamar os sábios e os magos: e os magos do Egito fizeram o mesmo com os seus encantamentos. Atiraram todas as suas varas ao chão, que se transformaram em serpentes, mas a de Aarão devorou as outras. Todavia, como o Senhor tinha predito, o coração do Faraó endureceu-se e não deixou sair o povo de Israel.

 

    Perante esta atitude de recusa do rei do Egito, Deus lançou sobre o Egito dez pragas. A primeira consistiu na conversão das águas em sangue que poluiu os rios, matou os peixes e tornou a água potável imprópria para beber durante sete dias. a segunda foi a praga das rãs, pela qual toda a terra do Egito ficou infestada.

 

Macedo Teixeira, Caminho de Luz e Sombra”, Chiado Editora, Lisboa, 2013, pp. 41 a 46.

(iv). “Bíblia Sagrada”. Editorial Verbo – Lisboa, 1976 – Edição Comemorativa da visita de Sua Santidade João Paulo II a Portugal – Êxodo, págs. 66 a 86. [a citação é até à pág. 78, de Êxodo 1 até Êxodo 12:38.]