Quando as Estrelas Acordam (9) / When the Stars Awake (9)

Nota: Para quem desconheça e possa desejar ter conhecimento das ideias desta obra, decidi publicá-la em vários textos, sendo que alguns ou todos, serão traduzidos para a língua inglesa.

TEXTO (9)

    A Geração toma várias formas e acontece na ordem do tempo que marca a nossa vida, mas se as várias formas são entes dos seres, estes podem ser reais e visíveis, mas também ideais e invisíveis. Logo, é nesta quietude real, no silêncio do visível ou da invisibilidade e num deslumbramento indes­critível, que bebemos agora, gota a gota, da fonte da geração e da água – viva, que tanto desejáramos antes de entrarmos nesta dimensão e, por isso, agora já não sentimos a sede que sentíramos quando caminhávamos no deserto das provações e quando as estrelas ainda dormiam sem que nós soubéssemos que tínhamos dentro de nós a sua luz. As sensações são agora estímulos de uma harmonia com vista ao encontro de Deus que até na sensação de angústia criam acordes da expressão de uma qualquer sinfonia da regeneração infinita.

    Ao meditarmos em certos acontecimentos trágicos que marcaram o fim da vida de algumas pessoas, por sua pró­pria autoria, sentimos uma grande perplexidade em entender as causas, apesar de tudo, sempre hipotéticas, que levaram algumas pessoas a desistirem de continuar a viver. Existem casos de sofrimento, completamente inexplicáveis perante os mistérios do Amor de Deus, mas a vida é um dom e o seu tempo é um prémio que nem todos aguentam as vicissitudes por que têm de passar para o poder receber.

    Talvez possam também existir certas disfunções, que levam à desarmonia da relação entre as estrelas, a alma e o espí­rito, pois existiram seres humanos que não conseguiram esta harmonia e a dor não os deixou viver até à redenção suprema; suprimiu-lhes esta glória, cegou-os com tanto martírio, que estes não foram capazes de viver a vida até à última gota, até ao seu fim natural. Quem sabe, se existem estas disfunções? – Mas, se existem, por que é que existem? Sendo a vida humana um dom e o viver a experiência desta graciosidade, vemos que nem sempre os exemplos são semelhantes no caminho para a glorificação de cada um, pois alguns não aguentam e atentam contra a sua própria vida. Há quem entenda o martírio como a condição para a purificação e para a Santidade. Não é de crer que esta seja a condição excelsa nem que seja sequer a condição necessária para chegarmos aos limites da proximidade divina.

    Todo o sofrimento humano e o sofrimento do Mundo têm tido como tributo a anunciação da Lei através do Amor; ação profética e salvífica que a descarnou de todas as formas para a inscrever no coração do homem e para a tornar em Lei que todo o ser humano sinta e manifeste pela ação e pelo pensa­mento, de uma maneira tão natural, como a reação das pálpe­bras perante a ação forte dos raios solares. Foi anunciada a Lei através do Amor e divinamente proclamada como manda­mento novo: “Que os homens não só se reconhecessem como semelhantes, mas também se amassem uns aos outros como Jesus Cristo os amou”. Ora, amando Jesus os homens, através do perdão incondicional, Ele foi encarnando todo o martírio e libertando o semelhante de todo o sofrimento. Por isso, não é de crer que o martírio seja uma condição humana e também não é de crer que seja a condição para a aspiração divina.

    Certamente que estas disfunções, prováveis, complexas e que perturbam a pessoa no caminhar para a paz e para a tranquilidade do espírito, mesmo nas pequenas perturbações do ambiente fisiológico, psíquico e mental do homem, resul­tarão da desarmonia entre as estrelas, a alma e o espírito, pois estas perturbações são proporcionais ao sentimento que cresce ou diminui conforme a intensidade imediata da aflição que nos perturba. É neste estado de confusão, de angústia e sofri­mento, que poderemos perder a fé que nos socorre no caminho para onde caminha a nossa existência, levando, nas situações mais dramáticas, algumas pessoas à descrença radical no valor da vida e a atentarem contra o dom da mesma. O que vale à Humanidade, para não sermos mais a experimentar este ato de forma tão inesperada e trágica, é conseguirmos nas grandes crises existenciais o equilíbrio entre a luta pelo caminho da vida e a vontade de viver. Serão estes fatores que, tornando­-se na força e no poder para nos desviar de tais pensamentos trágicos, nos ajudarão perante o desânimo a fortalecer a nossa fé e nos incitarão a caminhar para o mistério da vida que está para além de todas as condições possíveis.

    Quando as estrelas acordam, já não só sentimos e pen­samos pela apetência natural da alma, como passamos a ser orientados pelas luzes das estrelas celestes, que irradiam em nós uma certa energia propulsora da vida, tornando-se nesta função em constituintes que excedem os elementos físicos e as porções de matéria; tornando-se em algo, de que não temos plena consciência, mas que arriscamos traduzir num pensa­mento simplificado: o Sol é para a Galáxia como a Terra e a Lua são para a geração e criação dos seres vivos, sendo as estrelas os guias luminosos e energéticos que intervêm na geração e criação de todos os seres do Universo.

    Quando se acende em nós esta nova luz, que ilumina o caminho por onde vai a nossa vida e para onde se eleva o nosso pensamento, surge uma conexão entre a liberdade de viver e a vontade de seguir sem perguntar por onde vamos; surge a satisfação de reconhecermos não termos necessidade de saber com precisão qual a forma do pensamento que nos dirige na direção da nossa vida. A partir desta altura, tudo está consumado, conforme a dinâmica da idealidade, que se torna na matriz do pensar e agir e nos induz para as formas que ganham os pensamentos na marcação do tempo em que vamos vivendo. Já não se tratará de viver somente nas condi­ções dos projetos ou de viver entre o que é notável e prefe­rível; de viver entre o que é efémero e o que permanece; tratar­-se-á de viver e pensar seguindo a vida e seguindo o espírito, mais do que os projetos; tratar-se-á de viver com a verdade e pela verdade que se alcança com o que é eterno e em cada plano da idealidade. A Idealidade não será um modelo de uma perceção qualquer, mas de uma perceção que se manifesta na existência pelos elementos que a exprimem e que se tornam na centelha que nos interpela para a visão do ser de que fazem parte. Por exemplo, o elemento da cor atinge-se pelos seres das cores; o elemento da forma atinge-se pelos seres elementares das formas; o elemento da grandeza alcança-se pelos seres que são extensos; e assim sucessivamente.

 Páginas 32 - 35.