Nos caminhos do ser humano Texto III (conclusão da tese)

     Em tudo isto, fui concluindo no exercício da docência da importância da palavra “educar”, uma palavra que provém do latim educere, que significa “conduzir para fora de”, o que, se bem interpretado, deverá levar a que a ação educativa seja para conduzir o educando a partir daquilo que ele em si mesmo já é; a criança é um ser em potência a revelar na ação das suas características, logo, não será suficiente perceber a relação funcional das coisas desligada dum sujeito educando, isto é, que se distende através delas, pelas suas possibilidades naturais, na revelação das competências que não se situam em nenhum quadro institucional.

     Foi assim que compreendi também que, no preâmbulo dos meus pensamentos, sempre prevaleceram as minhas origens e a sua força na memória, à qual me agarrei e fui mostrando. Ou, dito de outra maneira, fui aprendendo na contemporaneidade que “Ninguém se fecha sobre si mesmo com medo de perder a sua originalidade, porque é esta que constitui a sua força e ele acredita nela”. [i]

     Direi que fui relacionando ao longo da minha docência a disciplina da Didática com a Pedagogia, sendo a primeira entendida como uma disciplina integradora, o ponto-síntese de outras ciências, como a Psicologia (da criança, do adolescente, do adulto) e a segunda, como um saber prático na conjugação da revelação dos elementos estruturantes com vista à Educação como totalidade…

     Percebendo melhor entre as lições diárias que era nesta subjetividade educativa que o conhecimento se descobriria melhor nas nossas possibilidades e que estas aumentariam com o que fôssemos vendo e nos fosse sendo mostrado, ainda que por fora; pois só o saber sobre o todo nos tornará possível alcançar a realidade, e esta será sempre imaginária, mas será a sua função [ii].

    Daqui se poderá inferir que o saber sobre o todo deverá ser um saber que tenha em conta os elementos naturais em conjugação com os elementos sociais e vice­‑versa, um saber que deverá passar pelo saber prático da Pedagogia alicerçado na teoria da Didática, pois não será suficiente o contacto com a realidade pela experiência intelectual, será necessário passarmos à ação prática, integrando e realizando os atos educativos para que sejam entendidos socialmente por todos e pelos educandos especialmente como atos vitais, e não apenas como manifestações datadas e assumidas culturalmente. Só com o plantar das ações na raiz do ser se poderá educar para a tolerância, para a proteção e para a defesa dos direitos/deveres, para com o ambiente e na defesa da Terra e dos recursos naturais.

     Em toda a minha vida de docente realizei diversos acontecimentos comemorativos: o Dia da Árvore, o Dia dos Direitos Humanos, o Dia da Criança.

    Estas comemorações foram realizadas com pompa e circunstância, nas escolas ou em lugares públicos, mas não passaram de acontecimentos culturais, nenhuma criança ou adolescente os entendeu como fatores vitais, como valores imprescindíveis para podermos viver e sermos felizes.

     Passada a data de 10 de dezembro, data da comemoração da assinatura a Declaração Universal dos Direitos do Homem, do dia primeiro de junho, Dia da Criança, ou do dia 21 de março a da primavera, tudo se esfumava na vulgaridade, e os fogos ou a desertificação eram facilmente desculpados como um problema da ignorância, um problema dos interesses financeiros, um problema de desleixo do Estado; poucos foram aqueles que disseram que seria um problema de educação, pois se existir pudor nas pessoas, o dolo diminuirá substancialmente e plantar bens naturais, poupar e limpar a Natureza passarão a ser atos de Educação que permitirão e incentivarão o castigo daqueles que teimarem em contrariar a vontade natural dum povo.

    Só poderemos entender que somos um ser cívico, um ser de direitos, se exercermos na prática uma pedagogia de raiz; plantar uma árvore não pode ser entendido como um gesto cultural; tem de ser entendido como uma atividade vital, como uma atividade que deverá salvar o Planeta da destruição e salvar a vida humana da tragédia pela falta de recursos, uma vez que já estaremos a viver a crédito, segundo a declaração da Global Footprint Network num comunicado conjunto com a World Wildlife Fund (WWF):

https://24.sapo.pt/article/sapo24-blogs-sapo-pt_2016_08_04_1981753532_planeta-terra--a-partir-de-segunda-feira--estamos-a-viver--a-credito

   “Para satisfazer as nossas necessidades, atualmente precisamos do equivalente a 1,6 planetas” por ano, disseram ambas as organizações. “O custo desse consumo excessivo já é visível: escassez de água, desertificação, erosão do solo, queda da produtividade agrícola e das reservas de peixes, desflorestação, desaparecimento de espécies”, lista o comunicado.

   “Viver a crédito só pode ser provisório, porque a natureza não é uma jazida, da qual podemos extrair recursos indefinidamente”, afirmam. [iii]

     E se este é um problema vital, outros há que necessitam de ser encarados do mesmo modo; como poderemos aprender a perdoar, ou até mesmo a julgar, se a pedagogia não for com base num Amor Comum e que tenha em conta o conhecimento global da matriz do educando? Um ser dificilmente compreenderá o outro se não o conhecer nas suas origens e dificilmente compreenderá que é vital para a Paz a tolerância da diferença e o respeito pelo outro se não aprender desde pequenino, nos valores da civilidade a ser verdadeiro, honrado e respeitador dos seus semelhantes, se não aprender a conjugar cedo a Declaração Universal dos Direitos do Homem, da Criança e dos Povos.

    Admiti por isso nos meus juízos que todo o nosso desenvolvimento e crescimento far-se-ão em contexto de adaptação dinâmica e tenderão para uma idealidade permanente e para uma integração global dos elementos rumo ao infinito. O meu pensamento sobre o Mundo não mais deixou de reconhecer a necessidade de vivermos em contexto com as situações que fazem andar a História, de vivermos num pensamento para a Idealidade e numa inspiração para a convergência nas ações sociais e num envolvimento qualitativo de propósitos académicos, científicos e institucionais.

    E perante a instabilidade da Ordem do Mundo, comecei a acreditar que seria bom, como forma possível, para equação de algumas das dificuldades na vivência contemporânea, reconhecer-se a necessidade da emergência do pensamento concreto o qual superasse a própria abstração e que integrasse a realidade elevando-a na dialética da superação, conferindo-lhe entretanto uma dimensão estética, uma dimensão religiosa e também alguma ficção, conferindo-lhe afinal uma dinâmica percecionada pela Idealidade filosófica que venho propondo ao longo da minha história.

    Aliás, a propósito, cito:

“..... Para Hegel aquilo que é parcial, delimitado, separado é justamente o que é ‘abstrato’ (abstractus, em latim, significa literalmente ‘extraído’, ‘posto de parte’). O ‘concreto’ exige, pelo contrário, um pensamento que seja capaz de ter em conta o conjunto de todos os aspetos, mesmo aqueles que se opõem e se excluem. Este pensamento deve também ser capaz de nos dar conta da passagem de um elemento ao seu oposto.” [iv]

 

     Finalmente, com base nesta caminhada existencial, reconhecera haver a possi­bilidade da conjugação da Razão e dos Sentidos entre o despertar numa relação com as Estrelas, já que fui compreendendo e descobrindo, conforme pensava sobre a Ordem do Mundo, que as estrelas são as guardas presidenciais dos dias e das noites; são elas que disputam o Tempo e a sua transformação e são elas que guiam e iluminam a totalidade do nosso Ser. Reconhecera também que já não serão apenas a Alma e o Corpo somente as partes da coexis­tência da nossa vida, mas também as Estrelas terão um papel tão importante como estes, na coesão, formação e desenvol­vimento da nossa humanidade.

     Por último, sabendo que vivemos cada vez mais entre as limitações dos ideais de Justiça, de Família, de Bem, de Verdade, de Amor, será de acreditar que só por meio de uma interação contextualizada em ambiente de integração geral [v] e certamente global de todos os elementos naturais e sociais, conseguiremos impelir-nos para o que será possível e desejável conceber numa pedagogia mais experimental que doutrinária nos aspetos que considerei como mais relevantes no “Caminho do Ser humano” e que agora procurarei traduzir na seguinte proposta:

 

   Tomando em consideração os objetivos do I Simpósio Internacional de Educação e Pedagogia “Paz e Cidadania Global”, na década internacional consagrada pela ONU (2013-2022) à aproximação das culturas, proponho que sejam consideradas nas linhas orientadoras do Simpósio e no Objetivo número 1, Educação para a paz e cidadania, as seguintes questões:

  1. Educação e Pedagogia por Comparação (a Natureza, o sentido das leis e dos elementos naturais);
  2. Educação ética para uma cidadania global estruturada (elaboração de normas e códigos de conduta social; as leis imperativas devem constituir-se como o último recurso);
  3. As Origens Sociais (endogenia cultural, multiculturalismo e as migrações);
  4. Relações familiares (educar para o valor da Família; os vários tipos de famílias);
  5. Compreensão do sentido do Amor e do Perdão com vista ao valor da Tolerância (Declaração Universal dos Direitos do Homem);
  6. O fenómeno da religiosidade (Conhecimento e encontro das religiões e Valorização do Sentido Ecuménico);
  7. Estudo sistematizado do ambiente e dos recursos naturais (a situação atual da Terra [“Vivemos a Crédito”]).

 

     [1] MACEDO TEIXEIRA, O Sentido do Escritor no Caminho da Globalização. Georges Seféris, um escritor de consciência europeia, cujo pensamento esteve em exposição na biblioteca de Vila Nova de Gaia em 1998 e que dizia o seguinte: “Ninguém se fecha sobre si mesmo com medo de perder a sua originalidade, porque esta constitui a sua força e acredita nela.”

     [1] GARCÍA HOZ, Victor, Princípios de Pedagogia Sistemática, Coleções Ponte, Livraria Civilização Editora.

   [1] https://24.sapo.pt/article/sapo24-blogs-sapo-pt_2016_08_04_1981753532_planeta-terra--a-partir-de-segunda-feira--estamos-a-viver--a-credito

   [1] HEGEL, Introdução à História da Filosofia e Sistema da Vida Ética, Edição Prisa Innova S.L., Madrid, Espanha, 2008; tradução de Artur Morão e Edições 70, L.da. Prefácio de Roger-Pol Droit, Página XVI.

   [1] MACEDO TEIXEIRA, Quando As Estrelas Acordam, Sítio do Livro, Lisboa, 2014