Nos caminhos do ser humano (Texto II)

    “Os Homens estão em divisão: uns na tirania e outros na agregação. .....
 
     “As nações a pilharem outras nações.
     “As nações a roubarem os valores, os alimentos doutras nações.
     “As nações a destruírem os Homens.
 
     E o que é grave é que “As nações a manterem a agressividade, a violência, as crueldades estão contra os princípios naturais da agregação existentes na natureza.” (Ibidem, p. 15.)
 
     Assim, perplexo com esta contrariedade humana, entendo ser relevante para a experiência dizer a propósito que, embora tivesse vivido confrontado com estas circunstâncias na memória, quiçá no meu ADN, e tivesse sido grande o meu sofrimento social no percurso da minha vida, para poder decidir conforme o que sempre achei mais correto e melhor nos meus atos de conduta social, que levaram inevitavelmente ao crescimento da minha consciência moral e do meu sentido ético de responsabilidade social, as minhas opções recaíram quase sempre, como por um ímpeto natural, com maior predominância no esforço de a minha ação ética ser orientada pelo princípio da afetividade, ainda que lutando contra as dificuldades psicológicas para ser constante, mas hoje reconheço com felicidade que valeu a pena, tornara-me com esta atitude num ser humano, afetivo e mais sociável, conseguindo com isso valorizar um ideal assente na Ética, na Razão e na Moral e a sentir-me a caminhar na Idealidade para o homem novo, para o homem que sonho como ideal de uma matriz também divina.
 
     Reconheço, que na caminhada da minha existência, prevaleceram na base da estruturação da minha consciência e do meu sentido de responsabilidade os primeiros ensinamentos que me foram dados durante os tempos da minha infância e da minha adolescência, ensinamentos quer em família, quer na escola, quer na sociedade, pois ao viver este tempo mais delicado da minha vida no período da infância e da adolescência em que ficara órfão de mãe, fizera-o numa aprendizagem com a educação fortalecida no sentido ético e no crescimento moral.
 
     Começara deste modo a adquirir conhecimentos fundamentais para vir a compreender mais tarde como jovem no caminho da maioridade qual o valor que tem a vida humana para quem aprende cedo que a nossa existência, para ter significado, deverá ser vivida em relação com os outros.
 
     Aprendia, afinal, nestes ensinamentos primeiros, entre experiências e jogos realizados nesta altura, o que mais tarde viria a perceber sobre o significado: “vamos aprendendo de Cristo, e que se ‘Amamos, logo existimos’”.
 
    Destes ensinamentos, que me foram ministrados logo a partir dos primeiros tempos, começara a decorrer na minha formação a capacidade para o que mais tarde, por outros conhecimentos gerais adquiridos, pudera começar a optar nas decisões da minha vida, tomando como regra para viver a conclusão de que a nossa existência deverá ser essencialmente bondade, amor e caridade.
 
     Entretanto, à medida que fora crescendo na inteligência e adquirindo mais conhecimentos e com eles o conhecimento filosófico-científico, fora descobrindo que o nosso pensamento tende ao longo do tempo no crescimento e desenvolvimento da nossa vida a ser travejado pelas faculdades da Razão e dos Sentidos.
 
     Dos sentidos, através de todas as sensações que vamos formando da realidade e gravando as imagens na memória para que, sempre que necessário, possamos evocar lembrando o que for necessário para a podermos imaginar e podermos criar num outro real mais humano e com isso desenvolvermos também o nosso mundo com a capacidade e a liberdade de que dispomos.
 
     Da razão, pelo entendimento que vamos tendo para a delimitação do ser através das nossas formas conceptuais, para as podermos configurar em entes ideais a serem comunicados pelas diversas línguas na expressão dos pensamentos e com isso podermos continuar a relacionar e inferir do Universo aquilo que passará a ser a realidade universal.
 
     Assim, fora descobrindo neste trajeto de conhecimento e desta maneira complexa de apreender pelo conjunto dos seres ideais e pelo conjunto das coisas materiais, um pouco do meu eu e do meu ser na admiração do Mundo com a minha existência intranquilo.
 
     Assim fora reconhecendo também, ao aprender de Descartes, que somos uma natureza pensante, que somos aquele que estará na prova da certeza, que somos nós que pensamos certo ou errado, ou ainda na certeza de que se “penso, então existo”. E que a nossa intranquilidade é fruto da nossa fragilidade no ser e nos conhecimentos e das nossas limitações no tempo do infinito.
 
    Mais consciente da realidade do Mundo e numa complexidade com vista a um pensamento integral, começara a atuar na compreensão do conhecimento apreendido em referência ao Pensamento Económico Português – do qual fui inferindo, com base em algumas leis económicas, sobretudo na “lei da tendência à diminuição da coerção física e extra-económica” . De que haverá indubitavelmente uma evolução histórica nas relações económicas e sociais, evolução pela qual os povos irão diminuindo na sua tensão social à medida que forem evoluindo também nas suas mentalidades.
 
     Vivemos num mundo global, precisamos de um pensamento global, de uma economia global; porventura uma economia com diferenças na diversidade de origem, mas que seja comum na particularidade da dignidade humana; nenhuma criança descobrirá o Amor e a Paz num Mundo Global se não crescer sob a égide do direito universal do acesso à dignidade da Liberdade, Proteção, Educação, Trabalho e voluntariamente puder caminhar ao encontro de Deus.
 
     Meditei na Criação, no que é criado e nas partes que o constituem, sobretudo na origem visível do processo da Criatura humana.
 
     Neste sentido, tudo me tem levado a crer, ressalvando as exceções à regra, que, qualquer que seja a criatura humana, haverá uma das partes que, no processo da Criação e durante toda a existência, estará numa densidade mais profunda que a outra.
 
     Poderá ser que uma delas seja a única ou simplesmente seja predominante nessa densidade, ou até que ambas se possam alternar assumindo instantaneamente cada uma de per si a condição natural para que é imediatamente condicionada, cada um de nós será uma realidade dinâmica mutável que, no Processo de Criação e Educação Permanentes, assume instantes variáveis, quiçá conforme as circunstâncias em que se encontre, a um tempo e em cada singularidade.
 
     E porque esta realidade me parece ser decorrente de uma lei da natureza, julgo que daí não se poderá tirar vantagem sobre quem mais possa em cada circunstância, pois será assim mesmo, dado que, como lei natural será comum a ambos os seres, e a apreensão de cada um estará na emergência da recetividade momentânea que será certamente sempre mais endógena que exógena.
 
     Porém, se é importante conhecer-se esta realidade, será ainda mais importante apurar na relação que mantivermos entre as pessoas e o Mundo esta possível condição natural e apurar também como apreendermos esta relevância para a nossa socialização, sobretudo para vivermos e comunicarmos natural e socialmente.
 
     O conhecimento e o desenvolvimento do sistema genético e a melhoria dos seus elementos no jogo relacional com a Natureza e com o Grupo deverão proporcionar-nos no futuro outras capacidades para percebermos melhor esta complexa densidade natural nos seres humanos.
 
    Contudo, será necessário começar a preparar o caminho para o fortalecimento da relação entre os seres, procedendo-se na orientação do ser humano pela Didática e pela Pedagogia ao “descarnar” de elementos negativos que sejam constitutivos, sobretudo, aqueles que permanecem na maior parte das vezes quase impercetíveis na personalidade de uma criança, muitas vezes oriundos das origens, credos, educação, culturas, famílias (tradicional; nuclear ou conjugal; mono-parentais; ampliada ou extensa; comunitária; homossexual; recomposta); e em certos casos, certamente das tragédias da guerra e da fome por que passaram e dos crimes a que estiveram sujeitos.
 
    Deverá reconhecer-se a possibilidade de haver sempre emoções e diferenças entre cada um dos seres humanos, mas proporcionar tanto quanto possível, na dinâmica social da educação, comunicação e da vivência social, o sentido mais autêntico para possibilitarmos uma estruturação elevada do equilíbrio emocional com vista a adaptação social e a evitar-se ruturas psíquicas nas nossas mentalidades.