Nos caminhos do ser humano (Texto I)
Macedo Teixeira
Vila Nova de Gaia
Portugal
Setembro 2016
Palavras-chave:
- Leis da Genética
- Economia Global
- Razão
- Pedagogia
- Origens
“A tolerância é muito mais do que aceitar passivamente o ‘outro’. É algo que implica a obrigação de agir e que deve ser ensinada, cultivada e defendida.”
Ban Ki-moon
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Ao tomar como tema da minha conferência “Nos Caminhos do Ser Humano”, e ao apresentar-me hoje aqui na Universidade Aberta, permiti que, à maneira de prólogo, expresse a minha satisfação por poder discorrer sobre a minha existência e ser matriz na tese que irei desenvolver.
Tomando em consideração os objetivos do I Simpósio Internacional de Educação e Pedagogia “Paz e Cidadania Global”, na década internacional consagrada pela ONU (2013-2022) à aproximação das culturas, sinto-os como uma oportunidade de poder falar dos paradigmas da nossa existência, já que têm sido os modelos de ordem social, e no caso os da Educação, que me têm preocupado mais, motivando-me a pesquisar, a pensar e a escrever para comunicar o entendimento das diversas questões e, dentro do possível, contribuir para melhorar a organização da vida da sociedade.
Dizer com elevada confiança na responsabilidade, que esta caminhada de reflexão, fora estruturada numa argumentação descomprometida, impessoal e baseada em princípios e leis, tornando-se certamente mais objetiva na argumentação e mais fácil na compreensão do que se propõe.
Pretendo que a abordagem se torne numa dimensão fecunda pelo induzir à possibilidade de ser partilhada por todos e poder assim ser alargada nos seus limites de compreensão.
Desde a fase de criança, passando pela fase da adolescência, pela fase da juventude e pela fase da maioridade, que passei pelas mais diversas experiências na educação, crescimento e desenvolvimento; experiências com acontecimentos diversos, sendo uns dramáticos, outros cómicos e outros trágicos, uns melhores e outros piores, mas todos contribuindo para a descoberta do sentido ético da minha conduta na orientação profissional e na minha vivência social, que, a julgar pelo que sinto com os resultados alcançados, deverá ser o principal e porventura o mais perfeito dos caminhos a percorrer durante a existência de qualquer ser humano.
Assim, com a finalidade de ser um juízo a propor para a reflexão em geral, comunico para o efeito de discorrer sobre o assunto, que na minha caminhada de experiências diversas confrontara-me sempre com dois princípios éticos antagónicos e sempre demasiado constantes na determinação e influência na vivência e educação do meu ser.
Dois princípios que se têm mantido tão constantes nas várias situações da minha vida e surgido tão misturados na minha sensibilidade, e a lutarem tanto entre si na clareza e afirmação dos seus propósitos, que tudo me tem levado a crer que, ao longo da nossa existência, para que o sentido ético da nossa orientação seja inclinado para a predominância ética superior no nosso comportamento, para que se mantenha a predominância do comportamento ético no que ele tem de mais humano, justo e fraterno, tal inclinação, para poder processar-se voluntariamente, irá depender sempre da nossa atenção sobre o que fizermos, pensarmos e dissermos, para podermos ajuizar bem e procedermos com humanidade, mesmo que baseados na confiança de que estamos a seguir o melhor sentido humano que formos tendo do valor da liberdade, do conhecimento e da educação, como fatores determinantes na estruturação da nossa consciência ética, moral e social.
Dois princípios que, sendo antagónicos, se oporão de imediato no nosso comportamento, se oporão a partir da raiz gerando com isso uma certa tensão na determinação da prioridade da nossa conduta social e na determinação da nossa estabilidade emocional, sobretudo enquanto não ocorre a demarcação do sentido ético que nos propomos relevar em cada ação humana.
Dois princípios que condicionarão, penso até que naturalmente, a nossa sensibilidade a demarcar-se na ação ética dominante, quer quando praticada com um sentido mais humano por oposição a um sentido tirano ou com maior configuração de propósitos quando praticada num sentido tirano por oposição a um sentido humano. Sabendo-se, contudo, que, em qualquer das situações praticadas, a nossa sensibilidade também estará em confronto com a nossa vida cerebral, podendo na ação haver equilíbrio ou desequilíbrio emocional, quando na nossa relação com os outros houver ou não a conjugação entre as várias partes do ser e do todo.
Assim, proponho que desde a mais tenra idade, nos processos educativo e de socialização, se preste uma particular atenção à influência destas duas leis na vida dos seres humanos, se preste uma particular atenção na educação do ser humano para que se perceba que aspetos deverão ser mais orientados na personalidade de cada criança para que, quando adulta, se torne num ser social, instruído e humanamente bom, Um Cidadão para a Paz e Cidadania Global.
Proponho uma particular atenção na educação desde criança, dada a natureza destas Leis e a lógica que as caracteriza, sobretudo pelo poder que uma delas exerce na afirmação da nossa animalidade, de sentido contrário à racionalidade e ao amor, pois na vivência da minha vida nunca senti com grande nitidez qual a constância de sentido na ação dominante de qualquer um destes planos e também nunca fui capaz de conjeturar sobre aquele que atuaria em primeiro lugar na minha sensibilidade para a conduta; valeram-me os valores que me foram inculcados de raiz, já que no meu crescimento social umas vezes atuava primeiro aquele que me tornava mais compreensivo e humano, e outras vezes aquele outro que tomava a dianteira, tornando-me mais egoísta e menos compreensivo. Julgo que tudo dependeria da situação em causa e da forma como esta me provocava na sensibilidade ou me atraía no jogo das emoções.
Deverá ter-se uma particular atenção porque também nunca me apercebi de que tal oposição de princípios acontecesse numa evidência de raiz unilateral, mesmo a partir da altura em que a regulação do meu comportamento passou a ser mais estável e a minha ação passou a ser autónoma e totalmente dirigida por mim como sujeito consciente, responsável e livre, pois me parecera sempre que estas forças surgiam do meu interior e de uma raiz polar inerente aos dois sentidos.
Nos casos da minha existência, estas emoções foram surgindo na minha vida numa forma tão originária, subtil e sempre com tal indistinção formal que, em razão de uma certa enervação social no desenvolvimento da minha educação, bem se poderá dizer que estas forças nas minhas paixões tangeram tão naturalmente a minha vida e surgiram numa tal semelhança que me pareceram na aparência serem sempre de sentido transversal.
E tão grande se tornava a sua aparência, que em certos casos, ambas pareciam indistintamente terem a mesma natureza; não se notava diferença entre o bem e o mal, parecia até que ambas lutavam para fazer emergir conflitos na sua razão e no seu valor ético de origem, colocando-me sempre perante uma grande confusão quando na afirmação positiva do que queria, do que poderia e do que deveria ser; sobretudo quando insistia para me tornar na ação humana um ser consciente e responsável e ser, na minha conduta, um ser humano bondoso, justo e solidário.
Assim sendo, julgo ser meu dever suscitar à consideração de todos que, na ação humana, nas circunstâncias de cada um e perante uma realidade tão complexa na compreensão da opção humana a seguir, tudo me tem levado a crer que, também dada a fragilidade da nossa conduta com vista a podermos defender os propósitos mais valiosos da humanidade a que me refiro, deverá ser exigível que no nosso comportamento social tenhamos sempre uma enorme e profunda vigilância sobre o princípio ético que deveremos seguir: se o princípio maior, como sendo uma escolha maior em detrimento daquele outro princípio, que será inevitavelmente uma escolha menor, mas que ao que parece tenderá a confundir-nos sempre, pois se oporá com mais força na caminhada da vida humana, quiçá pela ancestralidade do ADN ou pela força da Natureza ou pelas pulsões do Inconsciente (Id), proporcionando-nos, se não estivermos atentos, a confusão e o erro para nos desviarmos do alcance do verdadeiro sentido da humanidade, o sentido dos afetos, da indulgência e da solidariedade.
Neste sentido, para poder explicar melhor o percurso realizado durante a minha caminhada e a difícil opção ética que fora partilhando na minha conduta, tentarei num modo de abordagem por comparação, com um pensamento sobre a organização e educação da sociedade, que ao que parece será estruturada desde a base a partir destas duas das leis fundamentais da Natureza, de cuja falta de atenção ainda se mantem decorrente sobre os efeitos negativos gerados até hoje na sociedade pela incompreensão da sociedade quanto ao valor dos seus princípios naturais, proponho à consideração da ciência da educação, que nos manuais escolares, se registem e se considerem estas duas leis, como um elemento pedagógico de grande importância para a Compreensão e Orientação da Personalidade Humana.
Procurarei na minha explicação explicitar estas duas leis e mostrar a influência que têm tido na nossa conduta, ou seja: que, em contexto da ação humana, elas serão sempre emergentes e dominantes, quer seja a Primeira Lei Natural – a lei da agregação do ser (que estará na base do princípio da afetividade – no ser de afetos humano, humilde e bondoso) –, quer seja a Segunda Lei Natural – a lei da tirania do ser (que decorrerá por oposição e que estará na base do princípio do ser tirano, egoísta e ditador) [i].
Sem preconceitos de materialismos ou espiritualismos, observemos o ser na sua gigantesca e misteriosa vida para irmos tirando algumas ilações: ficamos perplexos diante dum ser quase divino, isto é, um ser altamente dotado de valores humanos, científicos, artísticos, técnicos – o criador transcendente –; por outro lado, vemos o monstro, o cruel, o sádico, o desumano, que justifica a paranoia num pensamento lógico de premissas falsas. (Ibidem, p. 13.)
“Estudemo-nos, dentro de nós, numa introspeção, e encontramos uma vontade de nobreza a par de uma vontade de tirania, criadora de agressividade sádica, de crueldade feroz.”
“Estudemos as forças imanentes do nosso ser, do nosso querer, as influências, que a comunicação desde a infância nos impôs, as múltiplas circunstâncias que dimensionaram as nossas possibilidades, tanto na transcendência como na rescendência, e verificamos a diminuta capacidade de reagirmos, de criarmos, de realizarmos condicionados pela circunstância.”
“Tem de se curar a humanidade para curar o Homem ou curar o Homem para que este crie outra humanidade, outra sociedade – em que o Homem (um ser condenado à morte) não viva em constante terror.” (Ibidem, p. 14.)
“A tirania do ser é simples: qualquer ser, para viver, tem de comer outro.
“É a crueldade da Natureza.
“O vírus, que não chega a ser uma célula individual independente, destrói qualquer ser.
“As heras matam árvores de qualquer espécie.
“O bacilo de Koch mata o Homem, e tantos, e tantos seres unicelulares matam seres de qualquer grandeza.
“As plantas criam venenos para matar outros seres, vegetais ou animais, comem animais, envenenam o Homem.
“Os animais da mesma espécie inibem-se de se comerem entre si e comem outras espécies. Mas esta inibição não a tem o Homem porque, apesar de mais inteligente, é mais monstruoso, mais cruel, não lhe basta comer todos os animais que lhe apetece, mas ainda se comem uns aos outros – canibalismo ainda existente nos nossos dias… (Ibidem, p. 14.)
“Um povo resolve comer outro – invade, mata, destrói, viola, rouba –, exerce toda a espécie de violência e crueldade, como nos nossos dias fez Mussolini ao conquistar a Etiópia, como Hitler e Estaline a conquistar e dominar Pátrias Livres, como os Estados Unidos da América dominando, reduzindo os índios, e explorando tantos povos pobres. .....
“Sim, a violência é a tirania do ser, impera na natureza; nada mais fácil de ver, nada mais objetivo.
“Porém, o que esses monstros, que fizeram uma história vergonhosa de tirania, …. não verão …. é que há outra força contra a tirania do ser: a Afetividade criadora duma agregação humana, duma Sociedade à procura duma Humanização, como nas religiões à procura do céu. .....