A Vida nos dará o Tempo!

      Devemos saber esperar até podermos dar o passo. A Vida nos dará o Tempo!
 
     Quiçá será esta uma síntese orientadora para resolvermos algumas das situações que nos serão comuns no nosso dia-a-dia.
 
     Especialmente as situações que mais terão a ver com a regularidade dos nossos afazeres e das nossas necessidades diárias e que, muitas vezes, em virtude das dificuldades que sentimos por não termos uma solução rápida para cada problema que nos surge, deixamos nascer por dentro de nós estados de maior conflito psicológico que nos vêm turvar a nossa sensibilidade e nos retirar a alegria para poder ver por outras janelas e encontrar outras soluções entre o que o Mundo e a Vida continuarão a ter de belo e de fascinante.
 
     Quem poderá apreciar o Mundo e sentir a Vida que o vai animando, se não se sentir nem se preparar a si próprio para ser capaz de admirar as diferenças e descobrir as alternativas perante as imprevisíveis e mais difíceis circunstâncias da vida humana?
 
      Devemos saber esperar até podermos dar o passo. A Vida nos dará o Tempo!
 
     Devemos saber esperar até termos a certeza de que perante as nossas decisões não nos encaminharemos para estados de crise de ansiedade e de tormenta. Aliás, não é muito invulgar na nossa vida, mesmo que com alguma prudência nas decisões, acontecer o contrário do que tínhamos pensado, pensarmos num certo resultado e obtermos um outro completamente diferente, às vezes até muito pior do que o que era esperado na menor incerteza!
 
     Ora, se em certas situações a realidade pode acontecer assim, então é porque a Vida, e em especial a vida humana, não será tão linear como às vezes nos parece ser; logo, perante qualquer necessidade, deveremos aceitar que nem tudo na vida poderá ser tão previsível como desejaríamos e que os resultados poderão ser ainda muito piores quando nos precipitamos nas nossas decisões e vivências.
 
     A atitude de saber esperar, ao que parece, será um dos domínios mais difíceis de atingir pelo homem durante o seu crescimento e desenvolvimento. Todos somos impelidos pela pressa da ocasião e na voragem de qualquer momento vemos sempre um tempo normal da nossa realização e crescimento: pensamos que, quanto mais depressa vivermos, maior será o ganho e maior será o proveito. Julgamos e fazemos questão de assim proceder!
 
     Ora, se é verdade que o Movimento é Vida, é ganho e é proveito, não será menos verdade que a espera tranquila e sem remorsos são contemplação e merecimento dos mesmos efeitos. Esperar que a Vida aconteça pelo merecido, esperar que ela nos dê o tempo necessário para se especificar em cada um de nós e nos tornar felizes na globalidade do Grupo.
 
     Olhar meditando entre a espera e o acontecimento de cada momento temporal, olhar pelas diferentes janelas da Vida e vê-la passar por instantes diante dos nossos olhos, tomar-lhe o sabor e sentir-lhe o efeito nos nossos desejos, serão aspetos tão necessários para a compreensão da beleza da Humanidade como necessário será que a Vida seja para cada um de nós na parte que nos pertence tão integral como o movimento que a anima.
 
     E assim como a água de cada fonte especifica o sabor do lugar, e o caudal a rapidez com que abastece quem a procura, também a nossa pressa mais agilizada, cum anima (com alma), e a nossa lentidão mais ponderada, ex abundantia cordis (com efusão do coração), especificam o nosso beber da Vida e o modo como a bebemos no tempo de que dispomos
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     Ninguém deverá esforçar-se por manter-se sentado quando precisa de caminhar, mas não precisaremos de andar sempre a correr com o receio de não chegarmos a tempo, nem termos disso o proveito ou ganho suficiente; o que é nosso jamais deixará de o ser, e o tempo é uma acessão da nossa sensibilidade e do nosso entendimento que irá para além da relatividade; se não recebermos o que é nosso com o tempo do Prazer, haveremos de recebê-lo com o merecimento do Dever
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     Devemos saber esperar até podermos dar o passo. A Vida nos dará o Tempo!
 
     O tempo necessário para resolvermos os nossos problemas, manter os nossos hábitos, guardar as nossas colheitas e semear as novas sementes, aliás, nos dará o tempo para fazermos todos os “recados” e resolvermos todos os problemas com a sociedade de que fazemos parte, encomendas mais ou menos “pesadas” que transportamos com alegria e que colocamos nos patamares mais elevados da nossa “casa”, sempre na esperança de a elevarmos no máximo com que nos for possível pela nossa inteligência e com a força que formos capazes de entender.
 
     E se a Vida não pode esperar, segundo a nossa “pressa” e perante cada ocasião menos previsível, também não se deverá duvidar de que o sabor e a delicadeza dos resultados dessa “pressa” serão sempre muito mais agradáveis sempre que sabemos cuidar do Tempo e temos a paciência de esperar.
 
     Esperar até podermos dar o outro passo e sem nos atropelarmos a nós próprios. Esperar que os frutos cresçam e amadureçam, esperar que a Vida aconteça no tempo de um qualquer plano da Criação, sem que a criação tenha de ser mais rápida por nossa vontade e com isso trazer-nos dissabores e tristezas.
 
     Devemos saber esperar, com a responsabilidade de querer ser e o desejo de querer chegar, mas sem atropelos nem desejos apressados; aliás, ter consciência de que o que importa é estar a viajar no “comboio” da Vida, mesmo que se vá na última carruagem, o Condutor é o mesmo, e o sabor deste dom não depende nem do lugar, nem da distância; bastará sentir que se vai a viajar no “Comboio” e o Condutor nos levará até onde podemos ir sabendo que sentiremos o mesmo que os outros sentem.
 
     Devemos saber esperar, a Vida nos dará o Tempo!
 
Macedo Teixeira