Sementes da Verdade

11-01-2013 16:36

SEMENTES DA VERDADE

TERCEIRA PARTE

DO ESTADO PARA A POLÍTICA

 

III

Um Estado sem Nação ou uma Nação sem características

 

    Um Estado sem Nação ou uma Nação sem características, não podem modelar continuamente a consciência interior e exterior do povo, que se exibe nas consciências dos diferentes povos do mundo, porque este se aperceberá da diferença que o separa dos outros e, por consequência, que caminhos estão a percorrer e que futuro espera seus filhos. Um Estado sem Nação, não pode exercer os seus superiores e legítimos interesses, porque lhe falta a força que vem dos filhos que, ao construírem a Nação que amam, fortalecem-na nas características que a distinguem e criam estados de poder que unificam e fortalecem o poder do Estado. Um Estado sem Nação será sempre um Estado subjugado pelos Estados ideologicamente mais vanguardistas ou economicamente mais poderosos. E não é necessário que sejam mais populosos, mais extensos territorialmente e estejam política e economicamente bem organizados; basta que sejam politicamente mais ousados ou economicamente mais protegidos. Por isso, na modernidade das épocas, vê-se a modernidade da criatividade e da construção social dos povos; mas, para que uma Nação seja coesa e soberana, não se pode ter pressa na modernidade das ideologias, enquanto a Nação não estiver unificada nos diferentes estados de poder ideológico e cultural e integrar a modernidade na soberania e independência, do Estado que a governa.

    Os exemplos são por demais evidentes da fraqueza em que cai o poder de um Estado, quando a Nação que o constitui é abalada nos princípios gerais que o edificam, que o constroem e diversificam na consciência dos cidadãos e das classes; sobretudo, quando a lógica da Verdade e da soberania é arrebatada à vontade da perenidade dos valores que a afirmam, mesmo em tempos de crise, pela substituição subtil da lógica dos interesses de cada grupo social, ideológicos e económicos, ou quando serve os caprichos da história efémera das vontades políticas, só pelo prazer de mudar nas ondas de cada emoção.

    Os diferentes estados de poder – ideológico, político, económico ou outros devem tornar-se como diferentes manifestações da manifestação geral denominadora da ordem; sem eles, não há sentimento intuitivo de mudança e qualquer desenvolvimento; sem eles, não se podem sentir a vitalidade da Nação nas diferentes sensibilidades e vontades de criação, nas características culturais específicas de cada comunidade e de cada classe que formam as regiões e o país. Mas se a importância dos diferentes estados de poder é por demais evidente, torna-se também relevante a coesão e soberania da Nação e do Estado e a eficácia na resolução e ordenamento destes movimentos, para que estas não tomem a criatividade e modernidade pela Ordem da criação e pelo progresso da modernidade.

    Os poderes do Estado e da Nação têm de estar acima dos estados de poder e estes acima da espontaneidade criativa e modernidade de princípios e vontades. Nenhum Estado pode ser soberano nem inspirar a soberania ao povo, se não justificar o desenvolvimento e progresso e se tentar segurar, pelos princípios que governam e garantem a soberania, todas as diferentes sensibilidades criativas nos diferentes estados de qualquer ordem de poder.

    Estas e outras razões mostram que vigilância e atenção devemos manter, quando perante estados de poder transitório e efémero, que desafiam pela intensidade de apelo ao acordo e integração das consciências em geral, e que tantas vezes, facilmente se deixam seduzir. Diz-se em boa verdade que o Povo manifesta soberania nos seus movimentos, e que eles ocorrem por razões, tantas vezes contraditórias e vontades mais apagadas, mas diz-se também, que na soberania da acção dos povos mora a descaracterização dos ideais mais nobres e robustos ao fortalecimento da Paz e da tranquilidade das sociedades. É que a soberania de um povo vem-lhe das razões de equidade e justiça, da Ordem e do respeito, pela pessoa, pela dignificação dos valores e pelo reconhecimento das Obras; mas, no interior destes frutos, nascem sementes de contrariedade e desespero; a ordem e estabilidade não se atingem, em alguns casos, em simultaneidade de tempo e de espaço, e o que para alguns povos é rapidamente adquirido, para outros leva mais tempo e exige outras reparações. E a par destas significações inevitáveis, pela irregularidade dos movimentos e dessimultaneidade de factos, surgem outras bem mais dramáticas e que resultam da oportunidade de nos estados de poder aleatório, surgirem intenções que servem os objectivos da contra-Ordem, e que a maioria das vezes são materializados em acções e executadas para essa finalidade, pelo mesmo povo que preparou a mudança e favoreceu a criatividade.

    Estas e outras razões mostram como devemos estar conscientes dos soberanos interesses do Estado, e examinar, com rigor, todos os momentos de integração nas diferentes construções sociais e políticas, nos diferentes objectivos planificados e nas intenções, justificadamente úteis e necessárias aos complexos de integração, proporcionais às condições dos integrados. Diz-se, com alguma precipitação, que vale mais estar onde é preciso, que estar onde fazemos falta; sendo verdade que nos parece real, para serviços pessoais, para atitudes particulares individuais ou colectivas; pois se é preciso estar, estaremos para servir, sem fazermos falta, quando não estamos. Mas, julgamos que o mesmo já não pode ser sentido e preparado, nas acções implícitas que acabamos de referir, em relação ao Estado e à Soberania, que o fundamenta e legitima; neste, estamos conscientes, que é necessário e importante estar onde é preciso, mas com a consciência de Estado e dos poderes que o consolidam, que exigem que preparemos a nossa acção e as atitudes, em conformidade com os superiores interesses da Nação, para que o Estado seja coeso, forte e eficiente em todas as excitações de poder; estar onde é preciso, necessariamente estando, onde se faz falta.

    Estar onde é preciso é estar numa tomada de posição de auxílio e de apoio; numa posição de retaguarda, que exige comparticipação solidária nos movimentos sociais e políticos, na flexibilidade do rigor no tempo de decisão e de resultados, nas experiências culturais e de lazer e em todas as acções, que sejam de prática e de experiência na preparação de novos caminhos, que complexifiquem a abundância de condições e de bens para servir as populações e seus legítimos interesses.

    Mas, para a eficácia e redundância destas acções é imperioso, na Ordem e estabilidade da Soberania, Progresso e Poder, que o denominador comum de todas as acções e práticas, seja coordenado pelas preocupações de subordinação aos princípios que garantem e fundamentam a perenidade destas ordens e, que se atingem pela concepção de Estado, que nos realiza a consciência de, naturalmente, superiorizarmos a ideia de estarmos onde fazemos falta.

    Assim se nota a falta de Estado e dos seus superiores poderes, na vigilância e intimação ao cumprimento das leis e acatamento da Ordem, no anseio e frescura dos exercícios e funções-públicas, nas actividades e manifestações de protocolo, na selecção de interesses e planificação de gastos, na disponibilidade de tempo e no imperativo dos factos, na rectidão de compromissos e na escolha dos assuntos; enfim, em tudo que caracterize a superioridade da Nação e a instrumentalize na qualidade e dignificação dos seus valores e serviços.

    Um Estado “é um agregado humano que obedece a uma autoridade soberana”, disse-se já, com frequência e significado; autoridade implícita e sentida na energia psíquica e humana, que a liberta quando o serve e administra; autoridade sentida por quem o representa e substancializa e que se ofuscará na continentalidade se não se edificar permanentemente essa mesma soberania.

    Que importa estar-se onde se é preciso, quando psicológica e efectivamente desejamos estar onde estão os demais? E se não temos condições para estarmos, fundamentalmente, onde fazemos falta?

    Se um Estado não faz falta a um povo, ou é porque esse povo já não é Nação nem tem sentimentos nacionais, ou é porque vive em penhor de outros Estados, vivendo onde é preciso, sem fazer falta onde vive nem se reconhecer quem é.

    Tudo isto poderá acontecer, se o Estado que é nosso e a Nação que o corporiza, não tiverem em atenção os estados de poder nem os momentos de integração; e, seja-nos permitido afirmar, que vale mais estar-se onde se faz falta do que estar-se onde se é preciso, mas não se fazer falta, quando não estamos.

    Deve ter-se, então, em consideração que o sentido de integração nos valores em fermento interno, ou nos valores em prática noutras comunidades se deve efectuar, da Soberania do Estado para a soberania da Nação e desta para o Povo e se, as ordens a integrar e os valores a fortificar, forem nacionais, mas a motivação for de ordem internacional, o sentido terá que ter como ordem esta sequência, mesmo que seja afectado um só plano do poder ou todos em simultâneo; pois os momentos de poder ou Estados de poder acontecem, sem que imperativamente tenham que ser na ordem do Povo ou do Estado ou da Nação, sendo por demais evidente, que qualquer um sensibilizado, sensibilizará por consequência todos os outros. O que é imperativo é o cume de unificação, porque nele se coordena e justifica todas as demais acções e em todos os diferentes e complementares planos.

    Especificando mais objectivamente o que se afirma, a ordem de coordenação e de poder tem que ser do Estado para a política, da política para a Nação e da Nação para o Povo, e não como algumas vezes acontece na história das Nações e no desenvolvimento: toma-se o poder pela acção, e transforma-se a soberania em serva e escrava das vontades particulares, de cada grupo ou de cada pessoa. No que se refere ao movimento ordenador que vai do Estado para a política, esta deve servi-lo com rectidão e desembaraço, com voluntarismo e submissão, com vigilância e empenhamento. Todos os exercícios políticos, públicos ou privados, devem consignar a soberania do que lhe é ascendente e a sacralidade que os formaliza, em toda a constitucionalidade escrita e intrinsecamente exposta às acções diversas nas vontades e gestos de criação.

    A nobreza da Política vive-se em cada um dos actos, pela rectidão e vigilância, pelo trabalho construtor e inventivo, de meios e formas que assegurem a estabilidade da política, mesmo que ideologicamente os regimes sejam reconhecidos como bons pelo povo que os serve; nada obsta a que não tenham que ser defendidos na sua estabilidade e voluntarismo, por cada homem e pela comunidade, na defesa da Verdade, do Bem e da Justiça. Defender os regimes, é exercer a liberdade de poder mostrar e revelar as opiniões de cada um de nós, guardando-se mais ou menos na consciência, o que se faz e realiza, pela paga de se ser Homem no rosto de todos os outros.

    Aristóteles ensina-nos a desenvolver o conhecimento pela actividade da práxis e como chegar evolutivamente à Verdade mais suprema, pela intuição que nasce no interior desta; aliás, tal aptidão interior capta-se e demonstra-se na sabedoria de qualquer prática, mas nesta sabedoria, também se capta quando nos desviamos do que é recto e justo e por consequência, quando deixamos de defender a estabilidade e voluntarismo da Verdade.

    Na Política como na Poética, no Desporto como na Ciência, na Arte como na Técnica está a edificação do Homem, pela consciência de poder construir a sociedade do seu tempo e ilustrar o tempo do seu passado com a luminosidade das ideias que deverão ser práticas para o seu futuro.

    Na práxis política, o homem encontra os meios de combater os excessos de irregularidade cívica, os excessos de ignorância cultural que justifiquem a ingenuidade na crença de que tudo está certo, desde que nos deixem viver. Na práxis política o homem encontra-se com outros, com diferentes ideias e opiniões, com diferentes vontades e objectivos, sendo como consequência, no conjunto das diferentes vontades e ideias que surgem as opiniões mais acertadas e os juízos e raciocínios mais perfeitos; é que, não basta viver, é preciso cumprir divinamente a vontade natural de quem nos cria para vivermos bem e para no Bem podermos viver melhor.

    Dizia Aristóteles que o político necessitava da cidade para exercer a sua actividade e necessitava da oportunidade para evoluir na prática das acções que realizava e empreendia nos planos da Ordenação e partilha dos bens e valores. No tempo de Aristóteles era necessário que assim se procedesse, as pessoas juntavam-se por uma diversidade de motivações menos estreita que nos nossos dias e moviam-nas interesses discursivos mais desencontrados que os de hoje. Basta reflectir-se nas motivações gerais para se descobrir, mesmo num pequeno grupo, que os interesses são mais comuns na maioria do grupo. Esbateram-se as grandes diferenças entre o campo e a cidade, desenvolveram-se as consciências e ajustaram-se as vontades; tornaram-se mais gerais e comuns, por isso mais unificadas e sentidas pela comunidade mais alargada nos interesses culturais, políticos, económicos e artísticos e, em todos os demais, que realizam o Homem de hoje, dignificam o de ontem e guiam o de amanhã.

    O homem dos nossos dias convive e comunga com as vontades gerais; convive e comunga com os estados de poder, que podem não ser hipóteses gerais e, por isso, não afectarem todos os planos de acção e criatividade, mas que, por força dos tempos e das ideias, se espalham facilmente pelo mundo, merecem de imediato a comunhão crítica, sua aceitação ou rejeição, na solidariedade ou indiferença, na prática ou na anulação. O homem de hoje não precisa da oportunidade despertada na Cidade, que era outrora o centro de interesses e o núcleo gerador de alterações; a oportunidade é, nos nossos dias, sinónimo de instrumento para as necessárias realizações e engendração consequente de naturais e sociais estados de poder.

    Assim se percebe a necessidade de ter-se nas oportunidades o sentido e o significado, de que elas são o instrumento dinâmico de mudança e desenvolvimento, mas nunca poderão ser o instrumento de ataque ou de defesa, de interesses que não correspondam à soberania do Estado e ao dinamismo natural da Nação e à ordem e estabilidade da vida do povo.

    As oportunidades são os degraus de vias que se vão percorrendo, em que se exigem solidez e criatividade no Bem, na Verdade e na Justiça. Por isso é que se terá que entender que a nobreza da política está na soberania do Estado, que está onde ela está, mas não pode estar sem estar no que é; é soberano e autónomo, é livre e independente em todas as vontades e movimentos de conservação e de mudança, mais lentos ou mais rápidos, em que o poder de mudar serve quem o muda, mas não muda quem o serve.

    A integração nas comunidades exteriores à profundidade e essencialidade rácica, histórica e nacional, tem que preservar a força nuclear que surge nesta ambiência natural, que edifica os estados de poder onde quer que se verifiquem, e fortalece a união das vontades na prática das mudanças em qualquer uma destas ordens; sob pena de o significado e a autoridade dos poderes do Estado, serem postos em causa e abalados até à exaustão e desordem.

 

Autor: Macedo Teixeira; Obra: Sementes da Verdade; Fotocomposição e Impressão: ROCHA/Artes Gráficas, L.da; Julho de 1992; págs. 91 a 96.