Entre Cenas / Between Scenes
Entre Cenas
Macedo Teixeira
Entre cenas vemos o Mundo desfilar nas suas múltiplas e agradáveis variações; estados de graça e de misericórdia humana; factos de grande satisfação e de profundo sofrimento. Entre cenas, vemos o “espetáculo” que não queremos e que, não podendo deixar de ver, vemos só o que nos não dói ou o que os nossos sentimentos nos permitem. Vemos o Mundo que varia e muda, que se transforma e se enfraquece para acudir às desgraças da inteligência humana, que, imprevidente e teimosa, pensa que tudo pode fazer, para os seus prazeres e gozo das suas “grandiosidades”. Entre cenas, assistimos amedrontados pela incerteza do futuro, porque o presente está ameaçado e a Vida se afunda na desgraça de uma juventude sem esperança e uma sociedade sem ordem e sem rumo.
O Mundo não se governa sem ordem, nem com tamanha desfaçatez e desinteresse pela verdade e pelo gosto de organizar a Sociedade na base dos princípios sociais e morais. A sociedade não pode ser apenas formada pelo conjunto de pessoas ou pelo elitismo dos grupos: onde reina o ruído e a confusão ou o separatismo e a distância; deste modo não há rumo social correto.
Entre cenas, assistimos ao nascer de corações despedaçados, de consciências laceradas pela falta de retidão dos outros, de brio e interesse em comungar de um mundo humano, com emoções fortes e desejos de aventura na liberdade do amor e do respeito do homem pelo homem.
Diz J. Lacan que o homem fala porque a linguagem o fez homem. Sem a linguagem humana, não teríamos superado a nossa animalidade natural; não faríamos senão gestos, e estes não seriam tão perfeitos e coordenados como são! Mas nós não podemos limitar a nossa fala ao conjunto das pessoas ruidosas e confusas ou às elites separatistas e autoproclamadas de “eleitas” e perfeitas. A linguagem faz o Homem e este surge no ser social que é, com virtudes e defeitos, com sonhos e pesadelos, sem ter o direito de se deixar perder na confusão e desordem, nem o direito de se autoproclamar superior aos outros e, em consequência, criar grupos que formam elites sem rosto nem alma social. Veja-se a exemplo os grupos que, em nome de uma religião, que às vezes nem compreendem bem, procedem criminosamente, matando todos aqueles que não comungam dos seus fanatismos de tutela.
Entre cenas, assistimos à queda dos “velhos atores” perfeitos e lúcidos, que nunca foram escravos de ideologias ou poderes de qualquer espécie, que nunca foram sobranceiros aos que eram mais pobres nem abdicaram de autonomia, liberdade e sinceridade. Que amaram uma ideia comum: serem homens e fazerem os outros a mesma coisa; homens que devem sonhar, viver, amar, rezar, e, quando já velhos, testemunharem que vale a pena viver entre cenas, ser assistente direto ou nem sequer ir ao “espetáculo”, porque tudo está bem e a Humanidade também envelhece, para poder ser nova com os novos filhos que nela diariamente nascem.
Entre cenas, sentimos uma vontade enorme de gritar, para que o “espetáculo” termine, antes que o palco se afunde e as luzes se apaguem!
Between Scenes
Macedo Teixeira
Between scenes we see the world parading in its multiple and pleasant variations; states of grace and of human mercy; facts of great satisfaction and of deep suffering. Between scenes, we see the “show” we do not want to and that, not being able to quit seeing, we only see what does not hurt us or what our feelings permit. We see the world that varies and changes, which transforms itself and weakens to assist in the misfortunes of human intelligence, which, improvident and stubborn, thinks that it can do everything, for its pleasures and enjoyment of its greatnesses. Between scenes, we assist frightened for the uncertainty of the future, because the present is menaced and Life sinks into the misfortune of a hopeless youth and of a society without order and without direction.
The world can neither be governed without order, nor with such effrontery and disinterest in the truth and in the liking for organizing Society on the basis of social and moral principles. Society cannot be formed only by the set of people or by the elitism of groups: where noise and confusion or separatism and distance reign; by this way there is no correct social direction.
Between scenes, we assist at the birth of broken hearts, of harrowed consciences by the lack of rectitude of the others, of honor and interest in communicating in a humane world, with strong emotions and wishes of adventure in the freedom of love and of respect of man by man.
Says J. Lacan that man speaks because language has made him man. Without human language, we would not have surpassed our natural animality; we would do nothing but gestures, and these would not be so perfect and so coordinated as they are! But we cannot limit our speech to the set of noisy and confused people or to the separatist elites and self-proclaimed of “elect” and perfect. Language makes man and this appears in the social being he is, with virtues and faults, with dreams and nightmares, without having the right of letting himself lose in confusion and disorder, nor with the right of proclaiming himself superior to others and, in consequence, create groups which form faceless elites and without social soul. Look for example the groups that, in the name of a religion, which sometimes they do not even understand well, proceed criminally, killing everyone who does not communicate of their fanaticisms of tutorship.
Between scenes, we assist at the fall of “old actors” perfect and lucid, who were never slaves of ideologies or powers of any kind, who were never haughty to those who were poorer nor abdicated their autonomy, freedom and sincerity. Who loved a common idea: to be men and to make others the same thing; men who should dream, live, love, pray, and, when already old, to witness that it is worth to live between scenes, to be a direct spectator or not even to go to the “show”, because everything is all right and Humanity also grows old, so that it can be young with the new children that are born daily in it.
Between scenes, we feel an enormous will to scream, so that the “show” ends, before the stage sinks and the lights are put out!