Crescendo Constroem-se os Sonhos (III) 2 / By Growing We Build the Dreams (III) 2
Crescendo Constroem-se os Sonhos (III) 2
Macedo Teixeira
É como adultos, e mais responsáveis, que começamos a compreender que as sucessões dos planos naturais e sociais se tornam numa manifestação natural de revelações que nos parecem sempre semelhantes, mas que devemos assimilar nas nossas acções quotidianas por linguagens e gestos de total cumplicidade. Sinto que estas relações naturais vão ganhando uma aceitação e entrega à medida que vamos envelhecendo, à medida que vamos sentindo que afinal somos elementos do Universo e que conforme melhor com ele vamos combinando vamos sendo mais felizes e brilhando muito mais. Creio que é da nossa natureza esta atitude e acredito que está na nossa substância estas qualidades de sermos integrados no universo dos vários elementos pela extensão das nossas capacidades. De sermos integrados noutras formas e noutros planos, mas com a acção das nossas resistências e mudanças.
À medida que nos vamos ligando mais ao mundo e às suas partes, vamos contrariando a nossa estabilidade emocional e desejando mais a nossa emocionalidade. Será, certamente, por esta razão que começamos muito cedo a rejeitar o mundo e a sua ordem, não fomos nós que a fizemos e pensamos que os que nos antecederam não tiveram a inteligência e o juízo suficientes para fazer um mundo melhor. Limitamo-nos a um idealismo emocional, despertando muitas vezes para exaltações e acontecimentos que nos parecem únicos, que nos parecem encaminhar para a realização plena e nos dar tudo o que precisamos. Os jovens adolescentes são a expressão temporal humana que melhor traduz esta forma de comportamento, esta forma de resistência que levanta maiores complicações nos domínios da ordem humana-social.
É da nossa natureza o sentimento e a emoção, são elementos básicos do nosso humanismo e os elementos principais para a iniciação do nosso romantismo corporal. Resistimos, de um modo geral, durante a nossa vida a tudo o que é dureza e convicção forçada, mas na adolescência esta resistência por vontade de criar e mudar tem uma especificidade mais determinada. Pois se o princípio do prazer está agora mais nítido e traz-nos alguma vergonha quando praticado fora dos seus limites, o princípio da responsabilidade não é ainda integrado sem uma resistência, por vezes radical, e o modo que encontramos para a exercer manifesta-se pela prática do prazer e do gozo que a aventura e a rejeição causam no seu exagero.
A adolescência traz consigo a emoção do tempo de viver e pensar no que mais agrada e do que é mais útil para nós e nos faz participar por envolvimento. Normalmente, procuram-se os acontecimentos que nos dão mais partilha de prazer do que de responsabilidade, acontecimentos que nos fazem esquecer do horário e da distância, esquecer com quem se está e onde, com quem se vai e com quem se vive. O mais importante para nós somos nós próprios — os outros têm que nos compreender e nos aceitar como somos e com a liberdade que queremos. A moral da autonomia baseada num sujeito legislador e obediente, a liberdade de viver com os outros e para os outros, ainda estão bem longe deste tempo de crescimento. O homem faz-se na vida, mas esta vai tendo a forma temporal vivida e as experiências adquiridas, que são, como se pode compreender, conforme as necessidades que cada um vai tendo. A exigência a si próprio só a determinamos num sentido de imitação e compromisso com o grupo, não necessariamente, com um plano cujas partes ainda não são necessárias no projecto em construção e muito menos na sua materialização.
Nesta altura não sentimos necessidade de mudança nos ajustamentos e adaptações e fazemo-lo, com alguma contrariedade, se não for para o que nos diz estritamente respeito. O mundo tem de ajustar-se a nós e não o contrário; não temos de ser elementos de planos de projectos passados e se os mais velhos não concordam é porque não evoluíram o suficiente e são demasiado exigentes. Tenho consciência que estou a ser um pouco radical na análise observada, mas os pormenores é que podem variar um pouco, o resto tem uma forma temporalmente definida que se repete em todas as gerações. Eis porque acredito que seja da nossa natureza ou até, quem sabe, de toda a natureza a tendência para resistir, que no homem, em meu entender, ganha a força de domínio e torna-se numa raiz da emergência cultural humanamente necessária. O problema surge nesta totalidade temporal e genética que terá que ser sempre bem acompanhada, para que o homem se faça no tempo de cada uma das suas fases de crescimento com equilíbrio em todas as dimensões. Não pode a tendência a resistir perder-se do sentido natural da mudança nem as transformações vitais ocorrerem por ruptura com a capacidade humana.
Resistir até ao ponto crítico, até ao ponto em que não podemos mais ser o centro único do amor e para o qual tudo terá de convergir, não será despropositado se estivermos a crescer e ainda não formos maiores nem necessariamente obrigados. Mas, logo que a idade e a responsabilidade tenham suporte natural do fazer da vida, não devemos encaminhar-nos para o resistir, como negação da ordem natural e social; antes pelo contrário, devemos solidarizar‑nos com ambos e assumirmos a nossa parte no processo. Nada se mudará para nós se não nos mudarmos também, a proporção é individual mas a força da convicção com que o fazemos é elementar para nos desenvolvermos num mundo que é real. A maioridade, quando bem estruturada na sua origem e ordenada pela educação na base do dever e do respeito, trará ao homem a compreensão de que a liberdade não é um sonho, mas esta compreende todos e nós somos apenas um elemento que tem uma função na sua linha. A maioridade trará ao homem a compreensão mais natural destas realidades, pois até o dia e a noite em tangência têm de se superar para darem lugar a cada uma das suas composições. E o homem tem de se superar no centro para se elevar até a um outro onde passará a ser elementar, mas já não sujeito único.
É bom recordar (e é com esta preocupação que escrevo estes pensamentos) que aprendi pelas experiências diversas que a expressão da vida não tem uma forma definida e acabada em cada uma das nossas épocas ou fases, pois esta desenvolve e rege-se por princípios e leis que são constantes e permanentes e, por isso, são naturais. Estes princípios e leis são as bases reguladoras necessárias e convenientes à vida de todas as gerações, e eu só vejo uma maneira simples de deles falarmos para que todos mais ou menos percebam a sua importância, e essa maneira é recordá-los pelos sentimentos vividos e expandi-los às emoções de cada um. É mais fácil perpetuar estes pensamentos pela comunhão geral de vivências e plantá-los nas emoções mais jovens, para que as formas das expressões da sua vida venham a ter conteúdos diferentes, como será lógico e natural, mas não sentidos nem ordens nem dimensões diferentes dos desígnios que a vida humana sempre deverá ter em todas as gerações.
Tenho ainda muito vincadas as preocupações dos que me ensinaram a descobrir o caminho da vida autêntica, foram breves sentenças morais que se tornaram à medida que ia crescendo em sinais de aviso de que nada aconteceria sem que a nossa sensibilidade fosse subtilmente perturbada. Esses sinais foram as fontes de expectativas e os pensamentos reveladores de uma ordem que era preciso descobrir nem que fosse à custa de aventuras que deixassem algum desespero na alma e remoques de desânimo no mal sucedido. Ninguém me pôde avisar dos meus sonhos nem me dizer como caminhar para os encontrar, mas todos me falaram de algo que era a sua própria razão e se tornava na sua própria força. Todos me contaram as suas maiores realizações e me falaram em forma de exemplo elevado; acontecimentos da sua vida e sentenças moralmente profundas, formas de um bom encontro para sempre.
By Growing We Build the Dreams (III) 2
Macedo Teixeira
It is as grown-ups, and as more responsible, that we begin to understand that the successions of the natural and social planes become a natural manifestation of revelations that seem to us always similar, but that we should assimilate in our daily actions by languages and gestures of total complicity. I feel that these natural relations will be gaining an acceptance and a delivery as we are growing old, as we are feeling that after all we are elements of the Universe and that the better we are going together with it, the happier we become and much brighter we shine. I believe that it is of our nature this attitude and I believe that these qualities of we being integrated in the universe of the several elements by the extension of our capabilities are in our substance. Of we being integrated in other forms and in other planes, but with the action of our resistances and changes.
As we are connecting more to the world and its parts, we are contradicting our emotional stability and wishing more our emotionality. It will surely be by this reason that we begin very early to reject the world and its order; it was not us who made it and we think that the ones who preceded us did not have intelligence and good sense enough to make a better world. We limit ourselves to an emotional idealism, awakening many times to exaltations and happenings that seem unique to us, that seem to guide us to the full realization and give us all we need. The young adolescents are the human temporal expression that better shows this form of behavior, this form of resistance that raises greater complications in the domains of the human-social order
It is of our nature the feeling and the emotion; they are basic elements of our humanism and the main elements for the initiation of our corporal romanticism. We resist, in general, during our life to all that is hardness and forced conviction, but in adolescence this resistance by will to create and change has a more determined specificity. For if the pleasure principle is now clearer and brings us some shame when practiced out of its limits, the responsibility principle is not yet integrated without a resistance, at times radical, and the way we find to exercise it manifests itself by the practice of pleasure and enjoyment that adventure and rejection cause in their exaggeration.
Adolescence brings with it the emotion of the time of living and thinking about what pleases us more and of what is more useful for us and makes participate by involvement. Usually, we seek the happenings that give us more share of pleasure than of responsibility, happenings that make us forget the schedule and the distance, forget who we are with and where, who we go with and who we live with. The most important for us are ourselves — the others have to understand us and accept us as we are and with the freedom we want. The morals of autonomy based on a legislating and obedient subject, the freedom of living with the others and for the others are still far away from this growth time. Man makes himself in life, but this will have the lived temporal form and the acquired experiences, which are, as we can comprehend, in accordance with the needs each one will have. The exigency of oneself, we only determine it in a sense of imitation and commitment to the group, not necessarily to a plan of which parts are not yet necessary to the project in construction and even less to its materialization.
At this time, we do not feel the necessity of change in the adjustments and adaptations and we do it, with some annoyance, if it is not for what strictly concerns us. The world has to adapt to us, and not the otherwise; we do not have to be elements of plans of past projects and if the older ones do not agree with us, it is because they did not evolved enough and are too exigent. I am aware that I am being a bit radical on the observed analysis, but it is the details that may vary a little; the rest has a temporally defined form that repeats at each generation. Here is why I believe that it is of our nature or even, perhaps, of all nature the tendency to resist, which in man, in my opinion, gains the strengths of dominion and becomes a root of the cultural emergence humanly necessary. The problem arises in this temporal and genetic totality that will have to be always in good company, so that man makes himself within the time of each one of its growth phases with equilibrium in all dimensions. The tendency to resist can neither be lost of the natural sense of change nor can the vital transformations occur by rupture with human capacity.
To resist up to the critical point, up to the point at which we can no longer be the unique center of love and to which everything must converge, it will not be nonsensical if we are growing and are not yet of age nor necessarily obliged. But, as soon as age and responsibility have a natural support from the making of life, we should not set ourselves out to the resistance, as a denial of natural and social order; quite the opposite, we ought to feel sympathetic with both and assume our part in the process. Nothing will change for us if we do not change ourselves too, the proportion is individual but the force of conviction with which we do it is fundamental to develop ourselves in a world that is real. Majority, when well-structured in its origin and ordered by education on the basis of duty and respect, will bring to man the comprehension that freedom is not a dream, but this comprises all and we are only an element that has a function in its line. Majority will bring to man the most natural comprehension of these realities, for even day and night in tangency must overcome one another to give way to each one of their compositions. And man has to overcome himself in the center to elevate himself to another one where he will begin to be fundamental, but no longer a unique subject.
It is good to remind (and it is with this concern that I write these thoughts) that I have learned by several experiences that the expression of life does not have a defined and finished form in each one of our times or phases, since this develops and is guided by principles and laws that are constant and permanent and, therefore, are natural. These principles and laws are the necessary and convenient regulating bases to the life of all generations, and I see only one simple way of speak about them so that all more or less understand their importance, and that way is to remember them by the lived feelings and to expand them to the emotions of each one. It is easier to perpetuate these thoughts by the general communion of life experiences and to place them in the younger emotions, so that the forms of the expressions of their life turn out to have different contentes, as it will be logical and natural, but not meanings nor orders nor dimensions different than the plans human life should always have in all generations.
I still have very pronounced the preoccupations of those who taught me to discover the path of the authentic life, it were brief moral maxims that became as I was growing warning signals that nothing would happen without our sensitivity being subtly disturbed. Those signals were the sources of expectations and the revealing thoughts of an order that was necessary to discover, even if it was at the expense of adventures that left some despair in the soul and discouragement taunts for the occurred evil. No one could warn me of my dreams nor tell me how to walk to find them, but everybody spoke me of something that was its own reason and that became in its own strength. Everybody told me their greatest realizations and spoke to me in form of elevated example; events of their lives and morally profound sayings, forms of a good encounter forever.