Sementes da Verdade

19-10-2012 15:40

SEMENTES DA VERDADE

SEGUNDA PARTE

DA POLÍTICA PARA A MORAL

 
III
 

Não são prioritariamente, os imperativos humano-sociais que estabelecem as revoluções

 

    Deve acreditar-se nos imperativos sociais presentes na mudança, quando necessários e necessária; acreditar-se, sempre, e esforçarmo-nos em conjunto, no contínuo desenvolvimento dos meios de conhecimento e de acção, sejam sobre os sistemas em exercício, sejam os resultantes da mudança. Não se deve, contudo, acreditar cegamente nos imperativos sociais para mudar o estabelecido – julgado caduco e inaceitável , para novas ordens de condução aparentemente jubilantes, mas, quase sempre, com pilares movediços, uma vez que a mudança teve como imperativos a supressão dos princípios e não o exame e aplicação alargada destes. E muito mais grave para a estabilidade das personalidades humanas é o resultante da sujeição dos grupos e do homem na realização de tarefas que destruam os referentes morais e imponham ordens ideológicas desumanizadas – porque ambos descrêem na transcendência da criação e terminam descrendo em si próprios.

    Podemos ter a certeza que não são prioritariamente os imperativos humano-sociais que estabelecem as revoluções nas ordens estabelecidas. Basta reconhecer a evolução cronológica do Homem para nos ocorrer de imediato outras respostas situadas nos imperativos sociais, mas de tendência mais natural do que de tendência vocacionada pela razão social. Tem sido a Ordem natural que mais tem contribuído para o desenvolvimento e auto-reconhecimento do homem, e se hoje os imperativos naturais não se notam tão acentuadamente na estrutura corporal humana ao nível visível, podemos afirmar que continua a processar-se o mesmo desenvolvimento em formas mais qualitativas e geometricamente mais definidas.

    O desenvolvimento cósmico e humano é inexorável e não se desintegrará na sucessão infinita de funções vitais nem se substituirá às singularidades temporais renováveis. É verdade que se nota hoje, com mais evidência, que as marcas do desenvolvimento se estabilizam nos corpos físicos humanos, e na cerebralização se nota uma mais relevante instabilidade e intemporalidade pois que, a acomodação interior é muito mais exigente e muito mais subtil na permanência e os referenciais de orientação valorativa confluem para unidades geométricas mais lapidares tornando os riscos de imprecisão muito mais acentuados.

    Não se pense, no entanto, que estamos sempre ”condenados”, na herança evolutiva, nas ordens sociais, aos imperativos revolucionários da ordem natural sobre a ordem social, ou vice-versa, sem que possamos intervir prioritariamente no equilíbrio e simultaneidade destas ordens, pela nossa vontade e capacidade; e até julgamos que não se trata de nenhuma ”condenação”, mas de um processo evolutivo que não pôde ser temporalmente simultâneo no mesmo valor característico, qualitativo e formal e no qual a nossa intervenção tem sido mais de espectadores do que de orientadores, em toda a plenitude do crescimento e desenvolvimento da nossa espécie. Julgamos também que, nos nossos dias, pelos meios disponíveis de conhecimento e de acção e pelos resultados já alcançados, já nos é possível intervir no jogo processual de organização e de vivência, para criarmos as condições de esclarecimento e orientação das vontades e dos compromissos para os rumos da Vida, da Verdade e do Bem, sem nos apearmos nas tendências valorativas das qualidades corporais e figurativas; ou no poder de agir pela força, sem mútuo consentimento e concordância; essas são as tendências do corpo ou da acção sobre o conhecimento – julgamos que hoje já nos é possível, com regularidade, desenvolver formas de realidade cooperativa e participada de acção – conhecimento com imanência recíproca das suas características; e, julgamos também que as revoluções devem desenvolver-se na vida das ideias e que o homem jamais se eximirá à necessidade de mudança: mudará com o Universo ou o Universo mudará com ele contido.

    As revoluções estão contidas nas ideias, não necessitam, como outrora, da materialização obstinada pelos actos, na fatalidade das espingardas e no mesmo significado que se entende o alvo e a arma. As armas serão as ideias, especialmente as ideias da acção da Verdade e do seu conhecimento, elas gerarão as mudanças convenientes e certas; os alvos serão os homens, que se elevarão na grandeza da humanidade, em contínua criação, ou se retardarão na permanência em estados de conhecimento mais racionalizados e menos transcendentes; as estratégias serão os bons conhecimentos, e a sua aplicação, as acções de combate.

    Do corpo que tem sido o alvo, vamos passando progressivamente ao espírito – que dá forma às ideias, às estratégias, sua aplicação e mudança nas batalhas do fluxo e desenvolvimento da Verdade. Vamos passando, nestas revoluções qualitativas e geometricamente ideais, a exigências de disponibilidade voluntária na missão de serviços e na flexibilidade das mudanças dinâmicas de toda a ordem social. Exigindo a flexibilidade mutual, que não se contradigam a Verdade e os valores que a unificam e tornam coesa, para que não se ponha em risco a saúde psicológica e física do homem – pois todos nós sabemos que o bem-estar interior e fulgor tonificado dependem dos caminhos que se percorrer e, que só os que levam à Estrada da Verdade e da Vida fazem derivar-nos para uma frescura e um sentimento tão nobres, que sempre ansiaremos por jamais deles nos desviarmos.

 

Autor: Macedo Teixeira; Obra: Sementes da Verdade; Fotocomposição e Impressão: ROCHA/Artes Gráficas, L.da; Julho de 1992; págs. 53 e 54.