Sementes da Verdade

31-07-2012 16:02

SEMENTES DA VERDADE

III

As contradições internas e externas

 

    As contradições internas, em qualquer instância da sociedade dirigente, motivam o andamento e exercitam a aceleração do poder com vista a prática das tarefas previamente programadas por objectivos que se desejam atingir para provação e segurança. Não queremos neste contexto, situar «contradição» no mesmo plano de contrariar ou de impedir a realização das tarefas no alcance dos objectivos que as propositam; pretende-se, sim, chamar a atenção para a necessidade de existir na classe dirigente, na governação ou na oposição crítica à governação, um grupo que execute e um grupo que controle e critique os resultados, por antecipação teórica ou por realização prática. E em cada uma das classes, dirigente e dirigida, o poder executivo e transformador seria mais ordenado e eficaz, mais universal e menos efémero; e, ao mesmo tempo, mais assimilável pelas sociedades no valor e utilidade da obra construída. E assim, como as experiências seleccionam o imperativo das ordens, também as obras, seu significado e utilidade, seleccionariam o imperativo das ideologias e o refinamento dos grupos que as instruem e experimentam.

   O que se afirma, exige que se desenvolvam concepções de trabalho e de pesquisa globais e interdisciplinares; em primeiro lugar, em benefício da comunidade, depois do grupo e depois da pessoa, resultando em contiguidade com a Ordem geradora universal de novas sucessões, relações de trabalho, desenvolvimento e de sociedade, mais motivadoras, desejadas e interessantes. E resultando, também, no diminuir em acontecimentos e no facilitar a superação das «armadilhas» que as mutações internas e externas geram na actualidade. Pois as mutações externas, contraditórias e antagónicas, à ordem social dominante, à ordem natural constituída, ao poder humano mais reconhecido e regular e às configurações naturais, definidas pela administração do poder e pelas diferentes formas de execução, em cada um dos instantes de mutação social e natural, se não considerarem os princípios gerais da execução e do controlo, se não forem capazes de prever os resultados da sua acção e não vislumbrarem oportunidade para a comunidade em geral, no bem e no desenvolvimento; quando ensaiam e alcançam meios de crítica da acção governativa da classe dominante e, em consequência, do convencimento do povo à mudança, tornam-se unilaterais na difusão dos novos objectivos; apenas interrompem a ordem funcional dos sistemas ideológicos instituídos sem provocar a mudança destes, como seria desejado.

   Vemos como fundamentais as contradições internas e externas, em nome da ordem e segurança do Estado e do desenvolvimento do povo que o constitui, se elas postularem a dinâmica efectiva e consistente dos projectos e programas, a tranquilidade das mentes «adversas» e o convencimento e desafio de todos, que os resultados de cada uma das ideologias, sendo diferentes, não são diferentes nos princípios que os orientam e comprometem e, por isso, os melhores em cada tempo que os historia.

   E deste desenvolvimento axiomático vai nascendo a ordem mais geral, não demarcada por sistemas intencionais redundantes, na concepção de que a suficiência do movimento é tudo e que a mudança é só aparente, ou nada é. Vai nascendo a ordem que mostra e apela para a consciência que as mutações são necessárias, naturais ou construídas, embora planificadas e inspeccionadas por reflexões profundas e libertas de qualquer propósito que não seja o universalismo, o bem da comunidade e a felicidade do homem; sem fracturas nem ódios, raciais ou religiosos, políticos ou económicos; sem descrenças e sem esperança no homem, no mundo e na Vida.

   Só por este desenvolvimento e confiança, e por outras formas que se venham no futuro a descobrir, se pode ir eliminando por erradicação o que nesta altura da História da humanidade ainda vai armadilhando subtilmente a liberdade do homem, poder desejar, crer e agir, sem receios e sem medos da efemeridade e do desvio da missão de serviços para que todos nascemos. E tão urgente se torna, que comecemos a desenvolver estes laços de comunicação, no servir o Estado, a causa pública ou privada, pois é facto evidente que ainda ocorrem movimentos de mudança violentos e repressivos em todo o globo.

   Só por este desenvolvimento e confiança, se podem unificar os laços complexos que edificam a alma de um povo, de cada país, de cada continente e do mundo, sem a qual não é possível viver, e descaracterizada, torna o povo indolente, permissivo e amontoado. A alma de um povo, como de uma pessoa, é a força motriz situada na raiz da coordenação dos sentimentos e na propulsão de todas as energias vitais; ela guia‑nos pela luz da Liberdade e se tivermos atenção e formos vigilantes, elevar-nos-emos continuamente e não nos enganaremos no caminho.

 

Autor: Macedo Teixeira; Obra: Sementes da Verdade; Fotocomposição e Impressão: ROCHA/Artes Gráficas, L.da; Julho de 1992; págs. 23 e 24.