Sementes da Verdade

19-10-2012 15:58

SEMENTES DA VERDADE

SEGUNDA PARTE

DA POLÍTICA PARA A MORAL

 
IV
 

Energia de agregação aos feixes de Luz Cósmica

 

    O nosso corpo é alimentado por uma energia vital que se volatiliza noutros compostos e com cargas e funções diversificadas. Esta energia é de agregação aos feixes de Luz cósmica, que fortificam todos os elementos corporais e psíquicos e que por sua vez dispõem o homem e a sociedade – criando-lhes as dimensões alternadas da vontade, do desejo, da segurança, etc. Se o homem se desvia dos caminhos que conduzem à Estrada, que é o suporte em que irradiam e se mantêm os feixes de luz, apesar de continuar a ser iluminado, é impedido pelos sensores físicos e psicológicos de distender a força que recebe – logo, não efectua troca com as realidades lúdicas, de desejo e de vontade; é como se possuísse uma lanterna, pilhas carregadas e uma lâmpada pronta a funcionar, mas não totalmente atarraxada e que apesar do dispositivo ter sido accionado para iluminar e as pilhas estarem aptas a despender energia, pela falta de ajustamento da lâmpada não se verifica iluminação nem as pilhas se descarregam naturalmente. Entretanto, o dispositivo continua ligado, não realizando as funções mais nobres em que se distingue a lanterna, que é, ver na escuridão e caminhar na Sabedoria.

    E se o homem é impedido de distender a força que recebe, pelos sensores físicos e psíquicos, e pode apenas efectuar câmbio pelas cargas bio-orgânicas na satisfação das vontades, dos desejos e das necessidades – viver na realidade insuficiente e deficiente, que caracteriza parcialmente a vida corporal nos seus impulsos, caminhando às cegas e sempre apeado no corpo e na carga, sem ver nem se sentir por dentro – uma vez que tal só é possível, quando os feixes de luz que convertem a energia física humana em energia psíquica, afectiva e biológica não são obstruidos à exterioridade pelos sensores naturais – que , como já se afirmou, são criação natural para a protecção dos feixes de Luz cósmica. Quando ocorre a vida do homem, com funções e tarefas mais simples ou mais complexas, com maiores ou menores possibilidades de utilização dos bens técnico-científicos, ele sente viver-se a vida no núcleo do seu ser em equilíbrio com os bens materiais e espirituais, alegre e presente em todas as realidades do servir e não distante e apegado à matéria, triste e periférico no ser que desconhece e julga viver feliz.

    É isso que explica a distinção entre o homem e os objectos e a possibilidade de câmbio entre ambos se efectuar sem serem afectados pelas forças naturais de cada um – uma vez que somos naturalmente constituídos por elementos biológicos que resistem às invasões estranhas ao nosso ser.

    Quando se verificam deficiências das estruturas vitais nervosas, provocadas por desvios do curso natural da vida humana, sobretudo por estrangulamentos da ordem sensorial na conversão correcta dos estímulos exteriores ao corpo e ao intelecto, nem a adaptação ao ambiente vital nem a selecção natural das respostas mais adequadas se processam harmoniosamente. E se não se pode unicamente explicar o desenvolvimento da espécie humana com base na selecção natural nem com base na adaptação das estruturas ao ambiente, talvez em complementaridade se possa falar do que é mais responsável pela homogeneidade da vida mental e corporal do homem e do que possa afectar com maior significado esta homogeneidade.

    Assim, convém ter em consideração a profusão que se exerce entre os corpos, pelas densidades voláteis das cargas de cada um, pois é ao nível dos feixes de Luz cósmica que se exerce homogeneidade, isto é, não há qualquer diferença na recepção por parte de qualquer ser humano – porque não há qualquer diferença na vida. Contudo, no que se refere ao exercício dos diversos graus de vitalidade e correlativas funções, verificam-se notórias diferenças que estão em conformidade com a heterogeneidade dos corpos. Todos sabemos que a vida orgânica ou a vida neurovegetativa não é igual em todos – no que se refere à funcionalidade, à sua força e ao seu tamanho e, muito especialmente, à temporalidade de duração. Assim sendo, a homogeneidade da comunicação e das relações sociais, e a serenidade de encontros de Homem-Homem e Homem-Natureza é possibilitada pela homogeneidade na recepção e profusão dos feixes de Luz-Cósmica. Da boa profusão resulta a excelente harmonia da vitalidade nervosa e orgânica e o desenvolvimento em todas as acepções do ser humano, encarregando-se, para o efeito, a inteligência de compilar os aspectos das diversas digressões e de marcar o compasso do equilíbrio e da harmonia para que se não verifique qualquer ascendência da energia corporal sobre a energia mental ou vice – versa e realizada na depuração extensiva a todas as partes do homem como resultado da acção dos feixes de Luz. Aliás, é determinante natural que assim seja, uma vez que o criado no corpo não pode ser ascendente no relacionamento ou na comunicação sobre o que cria e lhe permite tornar-se: a vitalidade corporal e seu reconhecimento dependem da vitalidade mental e sua sã funcionalidade.

    E não se pode criar uma vitalidade corporal e seu reconhecimento, nem se desenvolver a sã funcionalidade da vida mental, se a vida no seu todo não se experimentar e viver de acordo com os princípios gerais do Bem, da Virtude e da Verdade e que são alimentados pelos feixes de Luz Cósmica e desenvolvidos em amplitudes variáveis pelas lógicas correspondentes. Temos, assim, duas realidades a aprofundar e a desenvolver à harmonia da Luz cósmica no corpo e no intelecto e que consistem na ordem geral de agregação aos feixes luminosos, que fortificam todos os elementos corporais e psíquicos, e que da sua perfeita harmonia resultam as dimensões alternadas da vontade, do desejo e da segurança, e na ordem parcial de agregação e extensão dos feixes luminosos cósmicos, que resulta da insuficiência de agregação por desvio ou imperfeição de conhecimento, sendo nesta ordem o homem incapaz de distender com regularidade a força da Luz que recebe e, em consequência disto, não poder efectuar troca com a realidade na dimensão lúdica, de desejo e de vontade.

    Em ambas as dimensões da ordem de agregação, a lógica corresponde à lógica formal e prática dos valores que unificam a Verdade, apenas difere esta nos resultados que se percorrem e alcançam.

    Já no que diz respeito às acções que negam os princípios referidos, não se pode afirmar os mesmos estados de Bem pela acção dos feixes de Luz cósmica e, é bom que se reconheçam os perigos que se percorrem e se desenvolvem, e como a lógica que nega a Verdade destes princípios nos ilude no seu resultado.

    É um facto evidente, que muitas pessoas julgam ter o mesmo efeito, na nossa vida e na globalidade do sistema estrutural que constituímos, a mentira bem construída e a verdade complexamente revelada. Aliás, praticam com tanta facilidade acções falsas e mentem com tanta naturalidade como se falassem verdade; e são mais as vezes que acrescentam a mentira do que o que se esforçam por repor a verdade. Tudo nos é possível ao nível da comunicação e das relações humanas, de imediato e em comparação, somos às vezes tentados a afirmar que só nos maquinismos ou nos bens de consumo tal não é possível – pois, se errarmos, por vontade ou por ignorância, os equipamentos não trabalham, produzem males, tornam-se deficientes no trabalho e, na maior parte dos casos, os erros são fatais.

    Mas quando caímos no logro de que só os equipamentos e outros meios materiais estão sujeitos ao rigor e à perfeição, pois de contrário não funcionam ou funcionam mal, e no homem os erros e a falsidade não provocam efeitos tão semelhantes – estamos voluntariamente a revelarmo-nos ignorantes criminosos. Basta por simplicidade pensarmos na ciência médica, na ciência jurídica ou outra, para reconhecermos como é imprescindível o rigor mecânico e a verdade na sua aplicação, o rigor jurídico e igualmente a prática verdadeira em quem o exerce, como o rigor humano nas acções e práticas em tudo quanto se refira ao homem em todas as acções sociais e humanas. A Natureza é rigorosa e todos os elementos humanos e naturais, quando manipulados pelo homem, exigem conhecimento e aplicação rigorosos e verdadeiros – são realidades de que a Natureza está dotada, quando é unitariamente manipuladora.

    O homem, como agente de transformação das relações materiais em relações humanas e espirituais, não pode admitir como possível o jogo de relações pelo efeito efémero da mentira. Só existe a Verdade e, porque não sabemos tudo de uma só vez, ela contém o erro que corresponde ao desconhecimento e ao zénite da descoberta e da aventura para descobrir – é a fé e o caminho que se iniciam com o reconhecimento de onde estamos e quem somos, para onde vamos e o que queremos.

    Podemos errar nas opções e nas escolhas, errar nos meios para atingir as finalidades desejadas, caminhar por caminhos que mais tarde se venham a reconhecer como tortuosos e penalizantes, errar nos valores dos custos de compra ou de venda de determinada mercadoria ou bem terreno, no peso ou na qualidade, na cor ou na forma,  não podemos é mentir.

    E mente-se quando:

    Se julga uma pessoa pela sua cor, pelo seu dinheiro, pela sua religião ou por qualquer influência; se ama pelas mesmas razões, se partilha os bens cósmicos do Estado – públicos ou privados, de forma desequilibrada ou descuidada, se põe os direitos acima dos deveres, se esquece a família para nos lembrarmos de nós, se ignoram os pais por distinção ou qualquer forma de poder, quando permitimos que as crianças não tenham pão e os homens não tenham trabalho, se facilita a ociosidade e a má fé, se promete o que não se tem, se justifica o que fazemos com o pior dos outros – e em tudo o que seja conforme estas realidades.

    Não se pense que quem assim procede, pode viver a vida de forma suficiente e em plenitude, ter boa saúde física e espiritual e irradiar em extensão os feixes de Luz cósmica, sentir e fazer a tranquilidade da alma no expelir do perfume que anima e fortifica a vida. Quem vive assim, substituindo-se aos objectos e às cargas físicas de toda a espécie, transfere a sua alma para as realidades exteriores, de ostentação e de fascínio comparativo e cria nos outros – que não semelhantes em estados vivenciais, instabilidades nervosas, deslocamentos de consciência, ilusões momentâneas, frieza e sentimentos amargos em todos os fenómenos de atracção e repulsa.

    Só um grande autocontrolo e rapidez na recepção da energia cósmica revitalizadora do corpo e da mente, permite ao homem, que comunga continuamente da verdade, não ser aglutinado pela energia de pulsar físico, que é muito mais arrebatadora e mui mais imediata. É que, até dar-se o equilíbrio pelas relações osmóticas, a parte que emite e que irradia sente uma instabilidade depressiva, uma vez que as relações de comunicação só se podem estabelecer quando superadas as deficiências – pois é essa realidade que explica que durante o tempo de encontro tudo está em perfeita harmonia, notando-se, perfeitamente, após o encontro, diferenças no estar e no sentir em ambos os agentes.

    O que comunga continuamente na Verdade sente a docilidade da consciência e do ser, a alegria e o júbilo do tempo e da vida; o que vive na mentira, volta à periferia do ser, à sensação falsa de poder e autoridade, à impressão de estar muito acompanhado pelo número de pessoas que consigo convivem e,sobretudo, ao autojulgamento de que é forte e os outros são fracos.

    Estranhos quadros estes, emoldurados por uma substância tão frágil e tão áspera e que tanta aparência dão àqueles que deles comungam. Tão dominadores e ensombradores das faculdades intelectuais e espirituais do homem, que é frágil na vontade e assediado na consciência. E tão fascinantes se tornam, que exercem um controlo imediato nos raciocínios mais proeminentes e mais avisados à indisciplina e à dependência. Durante alguns instantes, após o desenlace da comunicação vivencial, quem não comunga desta falsa realidade sente-se instável, fragilizado, enfraquecido e capaz de tombar na rede que polariza o homem e o desencontro; e, não é tão rápido, nem tão fácil, libertarmo-nos dessa teia que apela para a evasão e fuga aos sentimentos existenciais, que durante anos governamos numa coordenação de esforços de aperfeiçoamento e encontro de unidades bio-psíquicas que estrelam a unidade da nossa consciência e da consciência universal.

    Estas e outras acções revelam-nos a certeza de que nascemos livres e, é essa a condição primeira dos imperativos da Vida, que exerce em nós as motivações possíveis ao empenhamento em permanecermos iguais ao nosso nascimento, com as qualidades potenciadas, alcançadas e vividas pelo reconhecimento e explicação. Se assim não fosse, as regras naturais da dependência ditavam as mudanças necessárias – pela selecção ou pela correlação, isto é, como qualquer ser natural estaríamos em mutação circunstancial ou em correlação temporal. Para nós faria noite ou dia como para qualquer ser natural – estrelas no céu ou o Sol a iluminar-nos, muito aquecimento ou muito frio, adaptação genética ou selecção natural – seres tão dependentes e tão iguais como os demais; sem diversidade nem liberdade, num mundo igual e de sujeição aos movimentos pendulares da Natureza, na indeclinável Ordem cósmica. Animais gregários, sem características individuais reconhecidas, nem personalidades distintas na curvatura da Vida; incapazes de transformar, senão pela ordem da mutação circunstancial.

    Sabemos como a ordem da mutação circunstancial é tão importante para o desenvolvimento das potencialidades humanas na disponibilidade à reparação e reforço dos meios para a convivência e relacionamento com a Natureza e com a Sociedade; mas, não podemos eximir-nos na adjectivação de muito fascinante, da ordem da transformação do ideal de antecipação e previsibilidade, que de alguma forma se assemelha ao criar das condições para a defesa e avanço do progresso inexorável da ordem das sociedades humanas. Como qualquer outro ser vivo, dependemos da Natureza na manutenção da vida, na informação da espécie e do género; mas as nossas capacidades culturais e de criação de formas de agrupamento, padrões de relacionamento e formas de amar diversas – que informam a nossa liberdade e autonomia e nos preparam na evolução histórica para o encontro com o ser unitário e social e que constituem um dos degraus da universalidade estabelecida – permitem-nos a liberdade de construir, prever e antecipar na geração e ordenamento das posições cósmicas no encontro bilateral com a Liberdade Universal, estabilizada e infinitamente conservada. Por elas, compreendemos e descobrimos que não há mais lugar para a evasão e todas as tendências nesse sentido, nem os segmentos vitais ou os quadros de variação e mudança se cruzarão com as pulsões que geram a evasão e tendências à desordem das constelações vitais e da expansão e contracção naturais dos feixes de luz, que iluminam e focalizam a actividade mental das sínteses evolutivas dos quadros de variação em todos os segmentos vitais. A harmonia humana levará o homem a despender todas as suas energias criadoras em linearidades multiformes e geometricamente harmoniosas; facilitando as respostas certas e evitando o grande exercício da dor e do arrependimento no relacionamento do homem com o seu semelhante.

    Aliás, este é o chegar à experienciação e conhecimento da ordem gravitacional, num dos graus da Ordem universal estabelecida; e é o chegar também, à ordem incidente da pedagogia instrutiva com a pedagogia educacional que são afinal, entre outras, as ordens que garantem a prática e a teoria certas no caminho do servir os desígnios da Sabedoria e da Liberdade. E para melhor fundamentarmos o que em síntese se refere, façamos um deslocamento na abordagem e sua relevante dominância dos conhecimentos pedagógicos da escola científica e seus objectivos, para os conhecimentos pedagógicos espontâneos e naturais, seus objectivos e fundamentos; e procuremos mostrar como actua a Sabedoria na coordenação e rigor das acções e actividades humanas, quando dominadas pela incidência da escola da Vida.

 

Autor: Macedo Teixeira; Obra: Sementes da Verdade; Fotocomposição e Impressão: ROCHA/Artes Gráficas, L.da; Julho de 1992; págs. 55 a 60.