Quando as Estrelas Acordam (21) / When the Stars Awake (21)
Quando as Estrelas Acordam (21)
Quando as estrelas acordam, é a terceira dimensão que se abre completamente nas capacidades de pensar, sentir e agir; é o eu, que já não é apenas guiado através dos diversos sentidos e da razão, mas também, pela força do próprio pulsar da vida. Esta nova dimensão interpela o Homem como sujeito da sua totalidade e como fim em si mesmo, passando a implicá-lo no jogo da vida em todos os seus limites e, ainda que guiado e inclinado para a direcção da sua essência, a partir do momento em que as estrelas acordam, passa a tomar parte no processo da sua existência, sendo a sua acção não involuntária, como na idade anterior, mas agora consciente, voluntária e integrada na totalidade do seu ser. Com esta mudança na personalidade, derivará uma nova impressão sobre o pensar e agir, originando novas perspectivas na abordagem dos problemas, outras impressões existenciais, que o levarão a procurar seguir as regras de conduta necessárias ao objectivo de alcançar o sentimento da Idealidade, que superará cada limite da acção humana e o ajudará a viver melhor em sociedade.
Tomemos como exemplo um jogo qualquer! Para jogarmos, estaremos condicionados ao jogo, isto é, teremos que saber como proceder para entrar em acção, mas será a dinâmica do jogo que irá implicar o jogador, no sentido que este deverá seguir o objecto do jogo para poder executar a jogada. No entanto, não haverá jogada se não houver movimento, mas também não haverá sentido nesse movimento se não houver condição no jogo, nem haverá limite ou ideal se o jogo não for regulado por uma idealidade, por um dinamismo, que só poderá vislumbrar-se na realização de cada jogada. Esta idealidade estará assente no fluir de todas as regras que teremos de cumprir e nas quais se destacam imediatamente as regras do jogo. Pois se o jogo for regulado pelo tempo, não poderemos exceder a regra que marca a duração de cada parte, de cada movimento na jogada e determina a duração do todo; se for regulado pelo preço de custo, não deveremos ir além das nossas possibilidades económicas; se for regulado pelos pares, não deveremos jogar como se estivéssemos sozinhos; e assim sucessivamente.
Ora, com este estado de liberdade e de autonomia, não poderemos deixar de afirmar que serão as condições sociais e culturais e a nossa má interpretação na sua organização que farão da vida humana um vale de lágrimas, onde todos mais ou menos choram com a maioria de razões injustas sobre o valor da vida, como algo que não será completamente bom, quando todos sabemos que a vida é um dom divino, que se enche com a graça e a alegria de a vivermos como um tempo agradável e bom e não de tristeza e sofrimento. Com este estado de liberdade e motivação para a autonomia, tornar-nos-emos capazes de superar todos os limites que os ideais postulam. Com esta atitude, tornar-se-á possível a cada pessoa antecipar os movimentos da sua vida pela integração das suas partes na ordem da própria idealidade, que será fundamental como condição de vantagem para extrair e viver cada acção com o melhor que ela tiver.
Caminhamos para um destino que é a meta de cada dia e de cada hora em que vivemos. Um destino, onde se encontra a “pedra” que nos impele para a erguer e fazer dela um dos elementos estruturais da nossa existência como humanos e como grupo; ela completa a obra que construímos em cada dia de vida. É esta “pedra” que é lançada por cada pessoa para o local onde o seu desejo quer chegar no dia seguinte, de acordo com as suas motivações e desejos, mas também necessidades e aspirações a novos momentos da vida. É esta “pedra” que nos compromete na vontade de acordar para viver e para sermos homens no verdadeiro sentido do termo. Aliás, os sonhos começam mais ou menos assim! “Amanhã, hei-de acabar de construir a casa que ontem não acabei”, “construir a ponte que ficou quase pronta”, “a escola que se há-de encher de crianças”, “hei-de receber a féria para dar o pão e mais carinho aos meus filhos”; “hei-de amar mais a mulher que os deu à luz”, “hei-de comprar um fato e pôr um chapéu novo na cabeça”; “hei-de cobrir a minha honra com a bênção do céu”; “hei-de ser digno de ser filho do homem e de Deus”; hei-de… hei-de…!
É assim que começam os sonhos de uma meta que planeamos alcançar; sem campeões nem competição; apenas o sonho da felicidade que é nossa, mas que só se alcança se a procurarmos e a vivermos plenamente. É assim que todos mais ou menos procedemos, desejando não ser pesados a ninguém nem ser indesejáveis à sociedade. Competir e cooperar pelo convívio social e pelo dever de erguermos a “pedra” da nossa vida, que é original e, por isso, diferente de todas as outras, porque não há pessoas iguais, para que todos possamos ser diferentes neste mundo que se mantém igual mesmo na diversidade. Ao despontar do Sol, vamos caminhando e olhando na sua direcção, trabalhando com as dificuldades que a nossa vida levanta: como hei-de viver, falar com os outros, ser feliz! Perante isto, vamos experimentando as diferentes posições para colocar correctamente a “pedra” da nossa vida; para que não tenhamos dores nem remorsos; para que cansados de caminhar e fatigados do esforço, possamos já à noitinha, colocar o nosso sonho, no sítio onde queremos chegar no dia seguinte no momento em que acordarmos. Às vezes, divagamos nas clareiras dos sonhos; procedemos em pensamento por desejos que nos iludem, mas também nos ajudam a viver; “se me sair um prémio muito elevado no jogo que comprei vou construir a habitação dos meus sonhos, trabalhar menos, passear mais, comer melhor; sei lá, hei-de fazer aquilo que não fiz até agora!”
Expressões da nossa vida e do nosso pensamento; realidades de uma realidade tão maravilhosa, que consiste em viver a vida e ser feliz. Às vezes existem quebras e desaires, que surgem em cada um de nós, com o qual não contávamos nem julgávamos que acontecessem. Os sonhos têm esta face oculta: são a sombra da própria vida e em toda a clareira há reflexos de luz e manchas de sombra.
Quando as estrelas acordam, aprendemos também a estar preparados para viver na fartura e na escassez, nas facilidades e nas dificuldades; preparados para as incompreensões e para o perdão das faltas dos outros e das nossas; e, acima de tudo, preparados para vivermos no dia seguinte, com a mesma vontade e alegria do dia anterior. É certo que precisamos de continuar a acreditar nos ideais de justiça, liberdade, família, como guias orientadores para acompanharmos a transformação da vida; nós necessitamos destes e outros guias, não podemos crescer sem referências valorativas. No entanto, a partir do estado de consciência sobre o efeito das estrelas, a totalidade do nosso ser impele-nos para nos elevarmos para além do que queremos como limite de cada valor. A partir desta dimensão, assumimos como causa necessária a superação de cada ideal como limite, para conhecermos o Mundo e a sua mudança, pois é nesta superação que ocorre o nosso desenvolvimento e este conjuga-se com a vivência na idealidade, permitindo, desta forma, que a diversidade das dinâmicas seja assimilada em cada acto da nossa vida, de um modo integrado e sem perdermos o contexto de cada valor.
Macedo Teixeira, Quando as Estrelas Acordam, Sítio do Livro, Lisboa, Julho de 2014, pp. 86 a 90.
FIM DA OBRA
When the Stars Awake (21)
When the stars awake, it is the third dimension that opens up completely in the capabilities to think, feel and act; it is the self, who is not only guided through the several senses and reason, but also by the strength of the very pulsing of life. This new dimension interpellates Man as a subject of his totality and as an end in itself, starting to imply him in the game of life in all its limits and, even if guided and inclined towards the directions of his essence, from the moment when the stars awake, he starts taking part in the process of his existence, and his action is not involuntary, as in the previous age, but now conscient, voluntary and integrated within the totality of his being. With this change in the personality, it will derive a new impression over the thinking and the acting, originating new perspectives on the approach to the problems, other existential impressions, which will lead him to try to follow the rules of conduct needed to the goal of achieving the feeling of Ideality, which will surpass each limit of human action and will help him to live better in society.
Let us take any game as an example! For us to play, we will be conditioned to the game, that is, we will have to know how to proceed to enter in action, but it will be the dynamics of the game that will imply the game, in the sense that he must follow the object of the game so that he may make the move. However, there will be no move if there is no movement, but also there will be no meaning in that movement if there is no condition in the game, nor there will be a limit or an ideal if the game is not regulated by an ideality, by a dynamism, which one might only catch a glimpse of in the execution of each move. This ideality will be steady on the flow of all the rules we will have to comply with and within which the rules of the game immediately stand out. For if the game is regulated by time, we cannot exceed the rule that marks the duration of each part, of each movement on the move and determines the duration of the all; if it is regulated by the cost price, we should not go beyond our economic possibilities; if it is regulated by the peers, we should not play as if we were playing alone; and so on.
Well, with this state of liberty and autonomy, we cannot stop affirming that it will be social and cultural conditions and our wrong interpretation within their organization that will of human life a valley of tears, where everyone more or less cries with the majority of unfair reasons about the value of life, like something that will not be completely good, when we all know that life is a divine gift, which fills itself with the grace and the joy of living as an enjoyable and good time, but not of sadness and suffering. With this state of liberty and motivation for autonomy, we will become capable of surpassing all the limits that the ideals postulate. With this attitude, it will become possible to each person to anticipate the movements of their life by the integration of their parts in the order of ideality itself, which will be fundamental as a condition of advantage to extract and live each action with the best it has.
We walk towards a destiny that is the aim of each day and of each hour we live in. A destiny where one finds the “stone” that impels us to raise it and make it one of the structural elements of our existence as humans and as a group; it completes the work that we build on each day of life. It is this “stone” that is thrown by each person to the site where their wish wants to arrive the next day, according to their motivations and wishes, but also according to the needs and aspirations to new moments of life. It is this “stone” that commits us to the will to awake to live and to be men in the true meaning of the term. Besides, dreams begin more or less like that! “Tomorrow, I will finish building the house that yesterday I didn’t finish”, “build the bridge that got almost done”, “the school that will fill itself of children”, “I will earn the weekday to give the bread and more kindness to my children”; “I will love more my wife who gave them to birth”, “I will buy a suit and put a new hat on my head”; “I will cover my honor with the blessing of Heaven”; “I will be worthy of being son of man and of God”; I will… I will…!
It is thus that begin the dreams of a goal we plan to achieve; without champions nor competition; only the dream of happiness that is ours, but that we only achieve if we seek it and live it fully. It is thus that we all more or less proceed, wishing not to be heavy to anyone nor undesirable to society. To compete and to cooperate for the social intercourse and for the duty of raising the “stone” of our life, that is original and, therefore, different from all the others, because there are no equal people, so that we all may be different in this world, which remains equal even in diversity. At the breaking of the Sun, we are walking and looking towards its direction, working with the difficulties that our life raises: how should I live, talk to others, be happy! Before this, we are experiencing the different positions to correctly place the “stone” of our life; so that we do have neither pains nor remorses; so that we, tired of walking and fatigued from the effort, may, by nightfall, place our dream in the site where we want to arrive the next day at the moment when we wake up. Sometimes, we wander in the openings of the dreams; we proceed in thought by desires that illude us, but also help us live; “if I win a very high prize on the game I bought, I will build the house of my dreams, work less, travel more, eat better; who knows, I will do whatever I haven’t done yet!”
Expressions of our life and our thought; realities of such a wonderful reality, which consists in living life and be happy. Sometimes there are breaks and setbacks, which arise in each one of us, which we did not expect nor thought that they would happen. Dreams have this hidden face: they are the shadow of life itself and in all the opening there are reflections of light and spots of shadow.
When the stars awake, we also learn to be prepared to live in abundance and in scarcity, in the eases and in the difficulties; prepared for the incomprehensions and for the forgiveness of the faults of others and of ours; and, above all, prepared to live on the next day, with the same will and joy of the previous day. It is certain that we need to continue to believe in the ideals of justice, freedom, family, as directing guides for us to keep up with the transformation of life; we need these and other guides, we cannot grow without valuative references. Nonetheless, from the state of conscience over the effect of the stars, the totality of our being impels us to elevate ourselves beyond what we want as a limit of each value. From this dimension, we assume as a necessary cause the overcoming of each ideal as a limit, for us to know the world and its change, since it is in this overcoming that our development occurs and combines with the living in ideality, allowing, in this manner, the diversity of the dynamics to be assimilated on each act of our life, in an integrated way and without losing the context of each value.
Macedo Teixeira, When the Stars Awake, Sítio do Livro, Lisbon, July 2014, pages 86 to 90.
END OF THE WORK