O que Faltará a Israel / What Lacks to Israel
O que Faltará a Israel
Macedo Teixeira
Gostava de começar esta reflexão a partir de um mandamento porque estava confiante de que não demoraria muito a chegar ao coração de todos vós; estas reflexões, como a que se segue, com mandamentos são mais diretas e não permitem subjetividades. A partir de mandamentos são imperativas, mesmo em qualquer forma de explicação, e qualquer reflexão, com outra base, permite tomar a realidade como objeto do pensamento particular, e não era isso que pretendia, pois queria fazer a pergunta indicando primeiro o mandamento. Mas, sabe-se lá, porque não consigo!
Procurei nos Livros Sagrados e ouvi os pensamentos mais cultos, mas não encontrei o mandamento que queria, para passar para uma ordem que fosse para além do Mundo, fosse mais perfeita e estivesse mais perto do Céu.
Sabe-se lá se, no fim deste meu excerto, as minhas palavras não ganharão essa força? Veremos, e o meu bom leitor junte-se a elas para ver se conseguimos!...
Sirvo-me de uma coleção de livros que comprei na minha jovem maioridade, de Amigos do Livro, Editores, L.da e de um texto em que merece respeito o seu autor, pois, com alguma luz e algum esforço, passei a compreender a origem deste país e a meditar no seu significado.
A norte, o Líbano e a Síria; a oriente, a Jordânia; a sul, o Egito. E entre estes países muçulmanos, se se excetuar a ilhota libanesa, parcialmente cristã, fica Israel. Tem uma superfície de 20 700 km2 e nasceu em 1948, três mil e quinhentos anos depois de Moisés ter conduzido os hebreus até à terra de Canaã, onde o seu nomadismo se tornaria em síntese histórica e o seu universalismo pátrio olhou de longe e apontando a Josué lhe designou os Cinco Livros (Pentateuco) para os guiar até lá e iluminar o coração dos homens até ao dia em que as leis fossem, além da Palavra e do Espírito de Deus, a Verdade, o Caminho e a Vida (Jesus Cristo). Moisés ficou como símbolo divino na entrada dessa Pátria, como recordação eterna da força que é preciso ter para caminhar através de todos os desertos da vida e de todas as amarguras que tem qualquer razão, mesmo que o seu valor não seja muito elevado na hierarquia do ser. Não chegaram a fixar-se de modo definitivo nessa terra “onde corria o leite e o mel” que seria diferente de uma Palestina pesada do desespero do deserto, do fogo e de pedras.
Em 722 a.C., os assírios invadem os hebreus e levam-nos como escravos para a Mesopotâmia. O rei Salomão divide o país em dois reinos: ao norte, Israel; ao sul, a Judeia, donde virá a formar-se a palavra “judeu”. Por volta de 586 a.C., os soldados da Babilónia riscam do mapa o reino da Judeia e deportam toda a população. Em 520 a.C., os sobreviventes e os filhos regressam do exílio; a servidão e os sonhos fizeram nascer a ideia de uma pátria, a ideia de uma terra a que os tinham arrancado por pertencerem à tribo de Judá, tinham-nos escravizado. Pois bem, visto terem sofrido por serem judeus, eles seriam judeus. Alexandre, o Grande, invade a Palestina e traz consigo uma multidão de colonos gregos. Os judeus encolhem-se dentro da Judeia e em volta de Jerusalém. Consideram-se o povo da Aliança, o povo que Deus escolheu para transmitir a sua mensagem. “Ele escolhera Moisés para o transformar em profeta.”
Em 70 d.C., os romanos não só destroem o mais sagrado lugar da religião judaica ao instalarem no Templo uma estátua de Júpiter, como os privam da sua terra com a sua presença, e assim se realiza a profecia de Cristo: “Jerusalém, Jerusalém, tu que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, não te ficará pedra sobre pedra.” Em 135 d.C., a Palestina revolta-se contra os romanos, que os vencem, e esta torna-se numa província romana; uma província sobre a qual os árabes, em 638 d.C., implantarão o estandarte verde do profeta Maomé. Durante algum tempo, triunfa o reino franco em Jerusalém, fundado pelos cruzados. Sucedem-se os turcos aos egípcios na terra da Palestina. São sempre, entretanto, os árabes que, em definitivo, saem vencedores da longa luta. E assim continuará até 1917. Uma longa vida errante e uma grande exclusão são traves da perseguição que parece não ter fim. Apesar de tudo, a chama da Revelação arde no seu coração (tal como a definiu Moisés), a Revelação na mente ganha uma grande força e é assim que os judeus fabricam para si uma pátria espiritual que os consola de não terem pátria terrestre. De todas as partes do mundo começam a surgir ventos de ressurreição não só para as almas que ficaram fiéis ao seu Deus, mas também para os corpos que hão de encontrar a cidade terrestre perdida.
Os judeus começam a reclamar que a Palestina lhes seja restituída, mas em nome da sua religião; para eles, a nação é, em primeiro lugar, um lar espiritual, esse lar não poderia situar-se noutro sítio que não fosse o país onde Deus apareceu a Moisés e onde se eleva o templo. Na terra da Palestina, um punhado de homens e de mulheres… três vezes por dia rezam pedindo a Deus que lhes dê vida suficiente para verem o Templo reconstruído e os exilados de regresso ao país. Depois de muitos sofrimentos, mortes e muitas humilhações, todos se preparavam para o grande dia do encontro de todos os irmãos que deixariam os países estrangeiros e regressariam à Palestina.
Em Karkov deu-se o primeiro sinal: 500 estudantes decidiram fundar colónias agrícolas na Terra Prometida (dos seus antepassados). O movimento aumentou com o auxílio financeiro do barão Edmund Rothschild e do inglês Sir Moisés Montefiore, tendo‑se fundado 17 colónias agrícolas na Palestina entre 1870 e 1896.
Este movimento encontra um cantor apaixonado que é o verdadeiro fundador de Israel, Theodor Herzl é um jornalista vienense, boémio… (vivia em Paris). Com base no caso Dreyfus, surgiu ao seu olhar a importância do problema judaico. Em 1895 escreve: “O Estado Judaico é mais que um livro, é uma mensagem e um plano de ação.” Herzl pede a criação de um Estado Judaico na Palestina, reclama a constituição de uma sociedade de judeus e de uma Companhia Judaica que se encarregue de liquidar todos os bens de todos os exilados nos países onde vivem, para os ajudar a reinstalarem-se na pátria reconquistada. Em 1896, Herzl reúne em Basileia o Primeiro Congresso Sionista. A palavra de ordem: “O Sionismo tem por objetivo criar para o povo judaico, na Palestina, um asilo garantido pelo Direito Público.” Assim foi até 1948. Era um problema de política internacional, porque visava a criação de um Estado. Herzl trabalha incansavelmente por esta causa; em maio de 1901, pede ao sultão da Turquia, Abdul Amid, que outorgue uma parte da Palestina aos judeus; o mais que conseguiu foi a autorização da instalação de alguns judeus isolados em diferentes regiões do império turco. Os ingleses intervêm e sugerem que se instalem os judeus em El-Arish, local situado em redor do Sinai. Esta região faz parte do Egito, mas é um protetorado de Londres e, por isso, os ingleses julgam chegar a uma solução. El-Arish só tem areia, calhaus e vento. Quem poderia viver ali? Os ingleses pensam noutro projeto. Criar um lar para os judeus em África, no Uganda, que lhes oferece vastos territórios ricos. Herzl hesita. O Congresso Sionista analisa o problema e conclui: ou na Palestina, ou em parte alguma. Herzl morreu em 03.07.1904. No limiar da morte, teve uma profecia: “Antes de cinquenta anos, o Estado de Israel será uma realidade.”
A Guerra de 1914-1918 deu uma ajuda; os ingleses estão dispostos a sustentar a independência dos árabes no seu vasto império (Golfo Pérsico, Oceano Índico, o mar Vermelho e o Mediterrâneo com a exceção da Costa Libanesa, que depois da guerra seria atribuída à França), mas os árabes terão de pegar em armas contra os turcos.
No dia 16 de maio de 1916 rebenta a guerra. Lawrence da Arábia, que tinha celebrado o acordo com os árabes, liga-se por amizade a Faiçal, o filho segundo de Hussein. Enquanto Lawrence sonha, os políticos trabalham nos bastidores. Os ingleses querem a parte de leão do petróleo do Médio Oriente, os franceses querem estar presentes, e os árabes eram uma ameaça por constituírem um vasto império. No dia 2 de dezembro de 1916 (estala uma bomba), os ingleses aceitam a criação de um Estado Judaico na Palestina. O que teria levado Lloyd George Balfor a assinar tal declaração? Que enigma está por detrás da Assinatura desta Declaração e a constituição do Estado de Israel em 1948?
O que faltará a Israel?
A criação de um Estado era um problema de política internacional, foram precisos diversos acontecimentos no mundo (duas guerras mundiais) e diversas circunstâncias a fazer temer as consciências em relação ao poder territorial, militar e económico. Agora que não é essa a questão, porque o Estado está criado; o que falta não é a criação de um lar espiritual nem a reunião dos irmãos. A Revelação estende-se a todas as cidades do Mundo e a Cidade Santa está em gérmen em todos os povos da Terra. As vozes proféticas ouvem-se por toda a parte em condenação de todas as guerras.
Porque será que a definição dos limites físicos da pátria espiritual continua a ser um problema? Ao lermos a história deste povo e da origem desta nação, tomamos conhecimento de uma realidade que constitui um certo enigma com uma visibilidade glorificada com tantos tormentos e tantas aflições, mas também em tanta força e em tanta confiança na doutrina da Revelação que a ajuda sempre chegou quando os lamentos foram ouvidos.
O que faltará a Israel? Ou o que faltará ao Mundo, para que este enigma seja resolvido?
Publicado na revista Caminho Novo de 2002.
What Lacks to Israel
Macedo Teixeira
I would like to start this reflection from one commandment because I was confident that I would not take too long to reach the heart of every one of you; these reflections, like the one that follows, with commandments are more direct and do not allow subjectivities. From commandments they are imperative, even in any way of explanation, and any reflection, with other base, allows taking reality as an object of particular thinking, and that was not what I pretended, for I wanted to ask the question by indicating firstly the commandment. But, who knows, why I cannot!
I searched in the Sacred Books and I heard the most cultured thoughts, but I did not find the commandment I wanted, to pass to an order that went beyond the world, were more perfect and was closer to Heaven.
Who knows if, at the end of this excerpt of mine, my words will not gain that strength? We will see, and my good reader join them to see if we can make it!...
I make use of a book collection that I bought in my young majority, of Amigos do Livro, Editores, L.da and of a text in which his author deserves respect, because, with some light and some effort, I began to understand the origin of this country and to meditate on its meaning.
To the north, Lebanon and Syria; to the east, Jordan; to the south, Egypt. And between these Muslim countries, if one excepts the Lebanese islet, partially Christian, lies Israel. It has a surface of 20 700 km2 and was born in 1948, thirty five hundred years after Moses having conducted the Hebrews to the land of Canaan, where their nomadism would become a historical synthesis and their national universalism observed distantly and pointing to Joshua indicated him the Five Books (Pentateuch) to guide them there and to enlighten the heart of men until the day the laws were, beyond the Word and the Spirit of God, the Truth, the Way and the Life (Jesus Christ). Moses remained as a divine symbol at the entrance of that homeland, as an eternal remembrance of the strength one needs to have to walk through all the deserts of life and all the bitternesses that have any reason, even if its value is not very high in the hierarchy of the being. They did not get to settle down definitely in that land “where flowed milk and honey” which would be different of a heavy Palestine of the despair of the desert, of fire and stones.
In 722 BC, the Assyrians invade the Hebrews and take them as slaves to Mesopotamia. King Solomon divides the country into two kingdoms: to the north, Israel; to the south, Judea, from which will come to form the word “Jew”. By 586 BC, the soldiers of Babylon scratch out of the map the kingdom of Judea and deport all population. In 520 BC, the survivors and the sons return from exile; servitude and dreams made born the idea of a motherland, the idea of a land from which they were torn away for belonging to the tribe of Judah, they were enslaved. Well then, since they have suffered for being Jews, they would be Jews. Alexander the Great invades Palestine and brings with him a multitude of Greek colonists. The Jews shrink themselves inside of Judea and around Jerusalem. They consider themselves the people of the Covenant, the people that God chose to transmit His message. “He has chosen Moses to make him a prophet.”
In 70 AD, the Romans not only destroy the most sacred place of Jewish religion by installing in the Temple a statue of Jupiter, but also deprive them of their land with their presence, and thus is fulfilled Christ’s prophecy: “O Jerusalem, Jerusalem, which killest the prophets, and stonest them that are sent unto thee, there shall not be left of you one stone upon another.” In 135 AD, Palestine rebels against the Romans, which won them, and this becomes a Roman province; a province over which the Arabs, in 638 AD, will implant the green standard of Prophet Muhammad. For some time, the Frank kingdom triumphs, founded by the Crusaders. The Turks succeed the Egyptians in the land of Palestine. It is always, meanwhile, the Arabs that, definitely, come winners of the long fight. And this will continue until 1917. A long nomadic life and a great exclusion are beams of the persecution that seems not to end. Despite all, the flame of the Revelation burns in their heart (as Moses defined it), the Revelation in the mind gains a great strength and it is that way the Jews make for themselves a spiritual motherland that consoles them for not having a terrestrial motherland. From all over the world it began to arise winds of resurrection, not only for the souls that remained faithful to their God, but also for the bodies that will find the lost terrestrial city.
The Jews begin to claim that Palestine is restituted to them, but in the name of their religion; for them, the nation is, in the first place, a spiritual home, that home could not be located elsewhere except in the country where God appeared to Moses and where the temple rises. In the land of Palestine, a handful of men and women… three times a day pray begging God that He gives them enough life to see the Temple rebuilt and those exiled returned to the country. After many sufferings, deaths and many humiliations, everyone was preparing for the great day of the meeting of all brothers who would left the foreign countries and would return to Palestine.
In Karkov was given the first sign: 500 students decided to found farm settlements in the Promised Land (of their ancestors). The movement increased with the financial aid of the baron Edmund Rothschild and of the English Sir Moses Montefiore, having been founded 17 farm settlements in Palestine between 1870 and 1896.
This movement finds a passionate singer, who is the real founder of Israel, Theodor Herzl is a Viennese Bohemian journalist… (he lived in Paris). Based on the Dreyfus Case, it appeared to his eye the importance of the Jewish problem. In 1895 he writes: “The Jewish State is more than a book, it is a message and an action plan.” Herzl requests the creation of a Jewish State in Palestine, claims the constitution of a society of Jews and of a Jewish Company which takes charge of liquidating all the goods of all the exiled in the countries where they live, to help them to reinstall themselves in the reconquered motherland. In 1896, Herzl gathers in Basel the First Zionist Congress. The watchword: “Zionism has the goal to create for the Jewish people, in Palestine, an asylum guaranteed by Public Law.” So it was until 1948. It was a problem of international politics, because it aimed the creation of a state. Herzl works tirelessly for this cause; in May 1901, he asks the sultan of Turkey, Abdul Amid, to grant a part of the Palestine to the Jews; the more he achieved was an authorization for the installation of some isolated Jews in different regions of the Turkish Empire. The British intervene and suggest that the Jews install themselves in El-Arish, a place located around the Sinai. This region is part of Egypt, but is a London protectorate and, therefore, the British think they reached a solution. El-Arish only has sand, boulders and wind. Who could live there? The British thought in another project. To create a home for the Jews in Africa, in Uganda, which offers them vast rich territories. Herzl hesitates. The Zionist Congress analyses the problem and concludes: either in Palestine, or nowhere. Herzl died on the 3rd July 1904. On the threshold of death, he had a prophecy: “Before fifty years, the State of Israel will be a reality.”
The War of 1914-1918 gave a help; the British are willing to sustain the Independence of the Arabs in their vast empire (Persian Gulf, Indian Ocean, the Red Sea and the Mediterranean with the exception of the Lebanese Coast, which after the war would be attributed to France), but the Arabs will have to take up arms to fight against the Turks.
On the 16th May 1916 the war breaks out. Lawrence of Arabia, who had sealed an agreement with the Arabs, associates by friendship with Faisal, the second son of Hussein. While Lawrence dreams, the politicians work behind the scenes. The British want the lion’s share of the Middle East’s oil, the French want to be present, and the Arabs were a menace for they constituted a vast empire. On the 2nd December 1916 (a bomb blasts), the British accept the creation of a Jewish State in Palestine. What had led Lloyd George Balfour to sign that declaration? What enigma is behind the Signature of this declaration and the constitution of the State of Israel in 1948?
What lacks to Israel?
The creation of a state was a problem of international politics, several events were needed in the world (two World Wars) and several circumstances making the people fear the territorial, military and economic power. Now that is not the question, because the State is created; what lacks is neither the creation of a spiritual home nor the reunion of the brothers. The Revelation extends to all cities in the World, and the Holy City is germinating in all the peoples of the Earth. The prophetic voices are heard everywhere, condemning all wars.
Why the definition of the physical limits of the spiritual motherland still remains a problem? By reading the history of this people and of the origin of this nation, we become aware of a reality that constitutes a certain enigma with a glorified visibility with so many torments and afflictions, but also in so much strength and in so much confidence in the doctrine of the Revelation, that help always came when the laments were heard.
What lacks to Israel? Or what lacks the world so that this enigma is resolved?
Published in magazine Caminho Novo of 2002.