Níveis de desenvolvimento comparado; nivelação qualitativa do poder dos povos e convergência de Interesses

11-05-2015 19:44

 

 

TERCEIRA PARTE

Aspectos Filosófico-Económicos

 

Níveis de desenvolvimento comparado; nivelação qualitativa do poder dos povos e convergência de Interesses

 

II

As economias modernas vão exigir outros critérios

 

    Como é do conhecimento geral, as economias modernas vão exigir outros critérios, que não apenas os da necessidade e os do poder transformador; vão exigir, também, os do  prestígio e da qualidade, pois já não se compra um automóvel, só porque é bonito e existem  poucas variedades, mas porque tem classe e oferece segurança a quem o adquire; logo,o prestígio da empresa exige grande responsabilidade no tratamento dos valores que a credenciam e asseguram o respeito dos seus compradores.

    As grandes feiras localizadas e reconhecidas pelo seu interesse económico e de desenvolvimento vão ser complementadas por exposições internacionais, que serão sínteses evolutivas de desenvolvimento comercial, industrial, técnico, científico e cultural e que criarão manifestações de interesse na itinerância dos valores do Progresso e do Desenvolvimento; mas, ao mesmo tempo, exigirão dos seus promotores uma grande capacidade de organização e liderança dos processos, que não podem ser transitórios nem reflectir inconsistências de qualidade e de afirmação. Serão os países que estarão em questão; serão os povos que os notabilizam, mas serão, acima de tudo os valores humanos que não poderão ser sacrificados a uma lógica que não tenha em conta os valores da convergência, do desenvolvimento comparado e do nivelamento equilibrado da qualidade dos poderes.

    Já não se tratará só do desenvolvimento dos poderes de origem, basicamente racional, mas também da sua exigente relação moral. Os poderes económicos, empresariais e políticos são poderes eminentemente práticos que criam rapidamente ambientes funcionais e técnicos que superam com facilidade os sentimentos humanos e fazem esquecer o homem do valer do seu valor. São poderes que desenvolvem uma lógica que assenta na oportunidade e no desejo da expansão; uma lógica voltada para as metas de desenvolvimento com base no tempo do progresso e nas exigências sociais da sua modernidade. Uma lógica em que os técnicos empresariais, económicos e políticos dinamizam as suas acções, mais pelas finalidades dos meios do que dos fins; é uma necessidade do seu exercício; uma necessidade de racionalizar os meios, de os tornar rentáveis e operantes; aliás, de os fazer progredir e de os tornar modernos. Sejam as máquinas ou as ideias; sejam os valores pecuniários ou os actos de gestão; quaisquer que sejam as realidades em questão, são actualmente mais assimiladas como meios de desenvolvimento do que como fins ou resultados para o próprio desenvolvimento. Ora, esta lógica da oportunidade, nos nossos dias reinante, será com certeza no futuro cada vez mais acompanhada da lógica das finalidades; da lógica que chamará atenção para as finalidades das próprias oportunidades; da lógica que lembrará o homem que os fins do desenvolvimento serão, em primeiro lugar, os fins do desenvolvimento do Homem, da Sociedade e do Mundo. Os fins do desenvolvimento das condições de trabalho e da sua qualidade; da qualidade dos produtos e da sua segurança; da quantidade dos bens e da sua partilha; os fins do seu reconhecimento no Mundo e da sua valorização profissional e humana. Uma lógica que não terá em conta só os aspectos humanos, sociais e nacionais, mas também os aspectos comunitários e continentais; uma lógica supra-nacional que não responsabilizará, apenas, o Estado de origem, mas também os compromissos internacionais que os Estados assumem e os valores morais que as produções, as qualidades e as competências exigem. Já não se tratará de dominar pela quantidade ou novidade, pela escassez ou pelo preço – aspectos essenciais às leis da procura e da oferta e pólos reguladores da economia dos povos; aspectos que equilibram as economias em resultado do aumento ou diminuição das produções lançadas nos mercados de produtos e pelo consequente abaixamento ou elevação dos preços. Esta nova lógica económica, política e empresarial passará a ter a responsabilidade de assegurar a manutenção do Mundo nestes planos, não pelo domínio dos povos com vista à selecção de capitais, mas pela responsabilização dos Estados com vista à selecção de consumos e consequentemente à selecção dos produtos, que aumentará o consumo pelas escolhas e pelos gastos, mais do que pelo investimento na subida dos preços; não haverá, no futuro, necessidade de haver tantos capitais imobilizados nem será agradável, para quem gosta de ser activo, ter de estar dependente das crises da escassez para ter algum lucro.

    Esta responsabilização dos Estados, com vista à selecção dos consumos pelas escolhas e pelos gastos, tornar-se-á possível pela nivelação qualitativa dos poderes dos povos e pelo reconhecimento de interesses convergentes. Pela nivelação qualitativa dos poderes, porque as comunidades sociais comprarão o mesmo, mas melhor; gastarão sensivelmente o mesmo ou um pouco mais, se sacrificarem o aforro pela felicidade mais imediata; aliás, os Estados terão de nivelar os poderes de resposta para a felicidade na velhice; sem que tenham que ser os cidadãos a ter que viver uma vida de sacrifício para assegurarem o final da sua vida. Pela nivelação qualitativa dos poderes, porque uma melhor qualidade nos poderes produtivos, políticos, sociais, de consumo, etc., implicarão mais exercícios ou tarefas, mais pessoas e mais gastos, mas também mais receitas, mais lucros e mais rareza de produtos; razões que levarão as empresas a quantidades mais certas, e não a terem que produzir muito, para terem baixos preços, mas nem sempre necessários por não haver consumo – não são os produtos de boa qualidade que existem em excesso, são os produtos de baixa qualidade que existem em demasia (e muitas vezes com tanto excesso, que se têm de deitar fora). Pelo reconhecimento de interesses convergentes, porque a nivelação qualitativa dos poderes permite que a convergência comece logo na selecção do plantio e na transformação dos produtos; com consequências no interesse das comunidades e seus consumos, no interesse das suas importações e exportações, no interesse do nivelamento qualitativo do poder dos Estados, das Comunidades e dos Continentes.

 

Texto extraído do Autor: Macedo Teixeira, Entre o Sol e as Ocupações, Porto, Editorial Panorama, L.da, 1997, pp. 67a 70.